O PREÇO DE LIBERTAR-SE
"Como pode alguém que está preso ter a chance de se libertar e não querer?" - foi a pergunta que minha filha me fez. Demorei um pouco para entender que ela estava questionando uma cena específica de um filme. Expliquei, de acordo com o contexto do filme, conforme ela havia pedido.
Mas a pergunta ficou rodando em minha cabeça.
"Como pode alguém estar preso e não querer libertar-se?"
Levei a pergunta para outras áreas da vida, e fiquei um tempo refletindo sobre o assunto.
Muitas vezes temos a oportunidade de nos libertarmos de algo que nos prende, mas nos recusamos a sair. Os motivos podem ser os mais diversos: medo, comodismo, preguiça... O fato é que as pessoas se acostumam com suas prisões e o mundo livre não faz mais sentido. Dá muito trabalho ser livre.
Libertar-se de um comportamento limitador, libertar-se de um pensamento opressor, libertar-se de um relacionamento abusivo, libertar-se de uma vida sufocante....
Entendo que há casos em que a possibilidade de libertação não existe, ou não está disponível no momento. Não há o que fazer. No entanto, o questionamento é sobre poder libertar-se, ter a oportunidade de ser livre, e escolher continuar preso.
Libertar-se exige esforço, exige mudança, dá trabalho. Sair da prisão (da mente, dos costumes, do julgamento alheio, dos relacionamentos) significa enfrentar as correntes, romper as amarras, ter força para mudar. Muitos não estão dispostos a pagar por esse preço. Ou ainda, estão tão acostumados com a rotina na prisão, que não saberiam viver fora dela.
Percebi, com essa reflexão, que todos nós, em alguma esfera de nossas vidas, acabamos por escolher a prisão; alguns rompem as amarras em muitas áreas, mas libertar-se de todas as cadeias me parece, nesse momento, algo muito surreal. Por mais triste e chocante que pareça, a prisão traz algum conforto, do qual nem sempre estamos dispostos a abrir mão.