Devaneando
O seu adeus me pegou de surpresa. Doeu, e ainda dói. Irônico ou não, dói, dói como uma eutanásia. Meu amor foi único; sem fragmentos ou intermediários, e mesmo assim, da sua parte, tanto faz, tanto fez. Você foi uma droga, uma droga lancinante, que perfura de pouquinho em pouquinho, expandindo a dor conforme entra em contato. Dizer-te-ia meus clamores, meu escárnio; mas de que, afinal, vale a pena? Voltaremos à estaca zero, soltando palavras obsoletas e ríspidas. A soma do fator zero, resulta no zero. Matemática pura... e você não era boa em conta. Fostes boa, boa nas palavras, isto sim! Boa nessa blasfêmia, boa nessas mentiras superficiais, boa, de fato, nessas falácias sem sentido para suplantar seu amor; ora infame, outrora asco. Em meu riso de tormenta, ainda há partículas vítreas. Partículas que bifurcam minha pele, causando pequenas hemorragias.
Se, por acaso, encontrar outrem, diga-me: compensará? Compensará todo este tempo, enquanto tua contigência emocional levar-se-á para amorosidade líquida, que escoa como a água na peneira — tem-se total liberdade de saída e, tampouco, permanece estático, porque este, por si só, é seu destino infindável. És como uma peneira; necessita, assim, permanecer preenchida, mas tua dupla faceta findará isto em instantes. De primazia, desista de preencher teu vazio miserável. Estes teus andrajos torpes, enlouquecem. Sentir-se-á 'num absurdo sem limites, numa falta de sentido, minha cálida persona. Quando der conta, retornará a seu estado embrionário sentimental: solidão e instabilidade. Fraca, fraca como sempre. Serei teu maldito grilhão perpétuo, desvairada. Ainda há, em tudo isso, uma centelha de ironia e absurdismo.