O RIO

"Psiu... Cale-se... Ninguém pode saber...

Engole esse choro... Seja forte... Seque os olhos...

Guarde os seus segredos só pra você...

Sorria sempre... Seja forte sempre..."

O peso desses costumes me sufocam

Não consigo respirar

O corpo todo dói

Não tenho forças para carregar esse fardo sozinha

Os segredos vergonhosos apertam minha garganta

Não consigo gritar por socorro

Não consigo romper as correntes que prendem meus pés

Não consigo correr livremente

Quando a dor se torna dilacerante

Uma cratera abre-se na alma

Um rio jorra pelos olhos

Um tsunami de emoções reprimidas revira todas as certezas

O rio que corre livremente lava a alma

Leva consigo toda pedra de tropeço

Alarga o caminho por onde passa

Devolve a vida às margens do seu curso

Recuso a prisão da vergonha

Rejeito o julgamento das minhas ações impulsivas

Não quero essas algemas

Não aceito essa mordaça

Ainda receosa, mergulho nesse rio

Deixo-me banhar em lágrimas

Liberto meu grito bárbaro aos quatro cantos do mundo

Dou voz à dor que me tortura

Bebo na nascente desse rio

O rio que nasce em meus olhos

Deixo-me curar através das palavras impronunciáveis

Respiro profunda e livremente

Lamede Sarah
Enviado por Lamede Sarah em 29/03/2023
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