O RIO
"Psiu... Cale-se... Ninguém pode saber...
Engole esse choro... Seja forte... Seque os olhos...
Guarde os seus segredos só pra você...
Sorria sempre... Seja forte sempre..."
O peso desses costumes me sufocam
Não consigo respirar
O corpo todo dói
Não tenho forças para carregar esse fardo sozinha
Os segredos vergonhosos apertam minha garganta
Não consigo gritar por socorro
Não consigo romper as correntes que prendem meus pés
Não consigo correr livremente
Quando a dor se torna dilacerante
Uma cratera abre-se na alma
Um rio jorra pelos olhos
Um tsunami de emoções reprimidas revira todas as certezas
O rio que corre livremente lava a alma
Leva consigo toda pedra de tropeço
Alarga o caminho por onde passa
Devolve a vida às margens do seu curso
Recuso a prisão da vergonha
Rejeito o julgamento das minhas ações impulsivas
Não quero essas algemas
Não aceito essa mordaça
Ainda receosa, mergulho nesse rio
Deixo-me banhar em lágrimas
Liberto meu grito bárbaro aos quatro cantos do mundo
Dou voz à dor que me tortura
Bebo na nascente desse rio
O rio que nasce em meus olhos
Deixo-me curar através das palavras impronunciáveis
Respiro profunda e livremente