ARRUMANDO AS MALAS
ARRUMANDO AS MALAS
Tarcízio Alencar
Sabe quando a gente abre os olhos para o tempo e percebe que parte do tempo passou despercebida?
Como se fôssemos passar uns dias na casa de alguém e de repente passássemos mais dias do que o planejado por ambas as partes?
Ou jantar, a convite, e repetir uma vez a mais?
Quando a alegria da tua presença começa a dar espaço para uma educada aceitação?
Quantas vezes vivi esta sensação? Só minha?
Vamos começar de novo: sabe como é que quando é para você já estar fazendo um MBA e se toca que ainda está no ensino médio?
Ou curtindo a aposentadoria com a sua derradeira, viajando e curtindo os seus netinhos, você ainda está procurando uma primeira?
É como se a vida tivesse te anestesiado e, acordando, viu que a vida não esteve anestesiada.
Matricular-me outra vez, já que nascer não dá?
Não dá! A turma é mais nova do que eu e, quando eu falar “caaara!” vão me responder: “coroa!”.
Vou sentar e apreciar, ver o tempo passar – não foi sempre assim? Encolher as pernas para nelas ninguém tropeçar. Dar “bom dia” baixinho que é para ninguém se assustar.
Na hora de deitar, no meu quarto, sozinho, que é para o meu ronco não incomodar.
Pedir a Deus que o meu banho eu possa tomar, fazer xixí sem me molhar... para que os outros enfadar?
Merecimento, eu sei que não tenho, muito não fiz para hoje negociar, mas, sabedor da paciência e grandeza do meu Deusinho, eu só Lhe peço um favor: na hora de me chamar de volta, tirar daqui o que quase nada está fazendo, me leva em um piscar de olhos, dormindo aqui, acordando acolá; é que para os momentos de tristeza que houver, se houver, sejam breves e o trabalho que eu der, mais breve ainda.