Advogado Petrúvio mudou e começou devagar
Petrúvio, o viúvo, dizia que a direção é mais importante que a velocidade, sentava-se na outra cadeira, no outro lado da mesa, mas mais tarde mudava de mesa, do outro lado da rua, depois mudava o caminho, andava por outras ruas, calmamente, observando os lugares, as plantas, os animais que passam, tomava outro ônibus, sempre alternava o estilo das roupas, às vezes tergal, às vezes jeans, de modo que nunca sabiam com que roupas o iriam encontrar.
Gostava de andar descalço, tirava uma tarde inteira para passear livremente na praia, no parque, ouvindo o canto dos pássaros, avistando aquele pica-pau ou o tucano, imperceptíveis de dentro do carro, via o mundo de outras perspectivas, outros cheiros, outros sabores, escovava os dentes com a mão esquerda, tomava banho no escuro e de olhos fechados, dormia do outro lado da cama, gostava de dormir em outras camas, assistia outro canal, outros programas de tv, comia outras comidas, provava outros perfumes, lia outros jornais, lia outros livros, vivia outros romances, amava a novidade, dormia mais cedo, dormia mais tarde, aprendia uma palavra nova por dia, outra língua, corrigia a postura, comia um pouco menos, acrescentava novos temperos, pois o que interessa é a mudança, porque se a pessoa tem mais medo da mudança do que da desgraça, você não impede a desgraça, o movimento, o dinamismo. Sabia que só o que está morto não muda! A salvação é pelo risco porque a vida não vale a pena.
(Adaptação da crônica de Edson Marques)