Você tem medo de quê?

Medo de ser quem eu decida ser e terminar em uma vida solitária.

Medo da guerra entre o que é e o que poderia ser.

Medo de não ser mais livre.

Medo de perder-me nas expectativas do outro.

De não conseguir viver fora dos limites da minha mente.

De olhar o mundo lá fora do lado de dentro e sentir-me satisfeita.

Medo de questionar certos conceitos amarrados na arrogância e ignorância de tempos remotos e ser excluída.

Medo de perder o entusiasmo pela vida junto com a vontade de viver.

De temer aos recomeços.

De perder-me de mim.

Medo de não mais desejar a morte, aquela que nos mata de rir, nos mata de amor, nos mata de prazer.

Medo de perder a alegria que não me exige nada em troca.

Medo da inadequação, do não agrado, do conformismo.

Medo de ser apanhada pela morte sem antes blindar os ouvidos de quem amo de frases do tipo “sonhos são bobagens” ou “seremos todos vencedores”.

Medo de sentir que a vida não tem valor ou que eu não tenho valor diante da vida.

Medo de morrer tornando a vida uma fúnebre existência.

Medo de não conseguir desvencilhar-me das amarras de julgamentos que insistem em prender-me a algo que não sou, apenas para agradar quem não pode ou não consegue ser como eu.

Medo de não me despir dessa pele velha, cheia de expectativas e indiferenças, e colocar uma que mais se parece comigo.

Medo de sentir-me invisível ou apenas uma presença silenciosa.

Medos não tão bobos. Medos reais.

Hoje minha visão está em outro lugar.

Meus olhos vagueiam em outras direções.

Minha coragem grita pela necessidade de um medo para existir; a recíproca também é verdadeira.

Viver com medo é viver uma vida esmagada pela fria submissão.

Tenha medos, mas medos racionais.

Tenha medo de perder-se de si, de tentar suprir tanto as expectativas externas a ponto de não mais reconhecer-se.

Reconheça dono de sua vida enquanto ela ainda é sua. Procure formas de vencer a morte em vida, nas pequenas coisas, até que já não seja mais possível, até que tu morras, ou morra em ti.

Tenha para si que o medo de ir nem sempre é um sinal de que devemos ficar.

Tenha medos, mas medos racionais.

Juliana Naves
Enviado por Juliana Naves em 01/01/2023
Reeditado em 01/01/2023
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