Bagunça

Imagine que estou em casa

Assim mesmo acomodada

Conheço minha própria bagunça

E olhando ela, não faço nada

Estirada no sofá ou na cama penso

Em toda tralha e quinquilharia

Que juntei ao longo do tempo.

Escondo tudo num armário,

Num canto de cômodo qualquer

Mantendo a casa, vazia, limpa e arrumada,

Ou disso eu tento me convencer.

Já faz tempo esse armário

Era um criado mudo

Mas assim sendo faltava espaço

Para esconder tudo que não assumo.

Um dia desses, assim sem mais

Tu passaste por aqui

Abriu o armário, (com suas palavras)

E começou a tirar dele coisas que nunca vi.

Olho agora a casa abarrotada

Tem nem espaço pra pisar

Te vejo em pé em frente ao armário

Ainda tem coisas pra tirar?

Encaro surpresa e espantada,

A toda essa quinquilharia

Eu que me julgava organizada

Vejo que no fundo a mim mentia.

Agora leitor caso esteja curioso

Não eram roupas, nem sapatos,

Livros, prendas, ou retratos,

Não são bibelôs, nem bonecos

Amarrotados e amassados

Iam meus pensamentos,

Hábitos e sentimentos

Mais sinceros e condicionados.

Botei tudo no armário e tranquei a porta

Como pôde você, sem chave,

Botar tudo isso pra fora?

E por favor não se assombre

Se eu ficar distante ou um pouco muda,

Não te estou tirando de minha vida

Tento apenas arrumar essa bagunça.

Me encontrar é difícil e confuso,

Mas de algum jeito estou feliz,

Pela primeira vez vejo o tamanho

Da bagunça que eu fiz.

Vou ajeitando, limpando e

Jogando muita coisa fora,

Vou arrumando e consertando,

Tudo a fim de me curar,

Quando estiver tudo arrumado

Terá espaço pra você ficar.

Faxinas internas como essa

São algumas vezes necessárias

Se me empenho com tanto afinco

É porque desejo que em sua vida

Meu coração seja sua casa.