Poesia é esquecer
A poesia é o choro de uma mãe ao ver o filho injustiçado. A poesia é o beijo de uma gentil e pura donzela ao ver seu cavaleiro honrado; um beijo que lhe é devido. A poesia é os sentidos em extra-sentir. A poesia não é o sentir. A poesia não é a simetria em si e ou por si. A poesia é a ordem no caos, a simetria no assimétrico, pois é a ordem não vista, é o ainda por vir. A poesia não é concreta, a poesia não é angelical, não é bela, ela é. Longe de sua beleza está seu poder, que é apenas ser e sua beleza está nos olhos daqueles que conseguem ver, que é enxergar para além dos sentidos. A poesia não é romântica, fala sobre amor, mas assim não o é. Longe disso, a poesia é inexatidão, distância. A poesia é sempre uma sensação distante a pôr-se em compreensão. Uma compreensão em contínuo aperfeiçoamento, isto é, distanciamento; poesia é horizonte. A poesia é a inexatidão a procura de precisão, precisão esta não conceitual, pois está longe do ideal poético o filosófico. O filosófo tenta captar o conceito. O poeta intuí-lo, absorvê-lo. O filósofo tenta compreender o conceito, para isso se faz necessário por vezes o sentido. O poeta tenta ser em instantes _ ao poetar _ o conceito, isto é esquecer-se. Para isso se faz necessário não os sentidos, mas o máximo de si, que está a extrapolar-se, isto é, o extra-sentido. Fazer poesia é ser o sentido, eis a diferença entre o apaixonado que escreve e o poeta. Ser poeta é assim não ser, digo, ser poeta não é um ofício, não requer técnicas elaboradas, tão somente ser ao sentir, que é não ser. Em essência (idealmente), ser poeta é não ser nada, só assim a poesia é revelada, o véu se esvai...