Um Monologo sobre meu progenitor
Há pouco tempo, uma decisão minha fez algum reboliço em minha vida sentimental, isso por que tomar essa decisão me fazia sentir culpada, mas antes de descorrer mais sobre isso eu vou atualizar a situação e depois colocá-la em um exemplo de fácil absorção.
Minha família se dá do divórcio de meus Progenitores, que como pessoas individuais visando o melhor desfecho entre si e nós, seus filhos, se separaram, e não tenho queixas sobre isso, estarem separados faz bem a eles, ao menos bem melhor que juntos, dessa união existem três filhos um homem mais velho e duas mulheres, eu sou uma das mulheres e a do meio, sendo o filho homem mais velho, cabe dizer também que a linhagem sanguinea de minha mãe é portuguesa com indigina, e isso deu a ela lindos cabelos grossos que eram naturalmente negros na juventude, uma pele clara porém bronzeavél, e traços delicados no rosto olhos grandes e amendoados e escuros, e um nariz tão arrebitado quanto Monteiro Lobato já quis descrever, meu progenitor é de um negro bonito, faz valer a palavra melanina, tem uma estatura media-alta, e traços fortes no rosto, tudo bem delineado e frisado, olhos escuros e maxilar marcado, meus dois irmão consanguineos se aparentam de alguma forma com espanhois, a minha linda irmã tem uma pele clara e bronzeável como a minha mãe, tem sobrancelhas finas, longos e grossos caracóis escuros em seus cabelos, tem um olhar firme por personalidade e extremamente gentil, sua estatura é média baixa e sua postura a faz parecer sempre mais velha deixando transparecer uma seriedade natural, meu irmão mais velho, bonito, com musculos definidos, um sorriso largo, cabelos escuros e pele clara e bronzeável como minha irmã, tem olhos bem marcantes e uma postura ereta dificil de confundir, suas escapulas são bem marcadas e seus caracois não se apresentam em seus cabelos por serem muito curtos e grossos, finalizando a lista dos três sou a que mais puxei a linhagem de meu pai, e não entendam mal, tenho orgulho de ser negra, do meu maxilar marcado, cabelos finos e encaracolados, dos olhos amendoados e de traços fortes e dos meus ossos grandes no quadril, mas por ser tão diferente em aparência em relação a eles, me lembro de ter ouvido varias vezes na minha primeira infância, principalmente quando estudavamos na mesma escola, que eu era adotada, bem esse murmurinho me seguiu por um bom tempo, no começo me metia em brigas e confusões mas depois eu ignorei e mais não deixei que chegasse a eles isso porque não mudaria nada, até que induziram que talvez eu fosse filha de outra mãe, esse comentário sim me afetou, a ponto de perguntar a ela, e no fim com uma seção de fotos da minha gravidez, e de mim quando bebê e uma serie de conselhos calorosos minha mãe desapareceu com toda e qualquer dúvida que eu poderia ter.
Mas seguindo a diante, após o divórcio fiquei anos sem nenhum contato com meu progenitor, ele havia se mudado com minha mãe para o chile e quando romperam nós (minha mãe, com nós três) voltamos ao Brasil, eu devia ter uns quatro anos na época pois, essa é a diferença de idade que tenho com minha irmã mais nova, quanto meu irmãomais velho são dois anos de diferença, me lembro que minha mãe trabalhava muito para manternos e por isso nos víamos pouco, raras as vezes que não estava preparando aulas em casa, sendo professora ela sempre tinha muito o que fazer, tinhamos uma babá, mudou varias vezes a pessoa mas sempre teve uma babá, minha mãe conheceu depois alguém com quem viveu os proximos 13 anos de nossas vidas, e essa é a pessoa que me vem a cabeça quando falamos de pai, ele é mais que boa pessoa, é um pouco turrão, do tipo que gosta de ser o churrasqueiro da familia e de uma boa cerveja gelada, minha mãe e ele não são mais um casal já tem uns 7 anos eu acho, mas ele nunca deixou de ser presente pra mim, bebeu comigo miha primeira cerveja, me deu carona depois de festas na adolescência e dançou a valsa comigo na formatura do ensino médio, sei que falando assim parece até que quero culpar o meu progenitor por tudo que ele não teve, e de verdade não é a intenção, entendo que deve ter vivido problemas em sua vida, coisas para priorizar e todo o mais, além da dificil distância de país, não tenho muito ressentimento disso, depois que fiz dez anos começou a ligar nos meus aniversários, até passou um fim de ano conosco no Brasil, começou a mandar algum dinheiro, que nunca chegou a ser uma pensão, mas que ajudou a pagar meu curso técnico, embora eu tivesse mais raiva disso do que outra coisa, pois como esse dinheiro não era o valor de uma pensão para três por algum tempo esse dinheiro foi usado nesse curso, meu curso, e já precisei ouvir que a "pensão" não era apenas para mim, entre outras várias coisas, que me levaram a simplesmente querer distância desse dinheiro, nada contra dinheiro é sempre bem vindo, e essa era a responsabilidade dele, para com os três alias, mas nem todo mundo viu assim, eu quis que fosse um privilégio, mas assim o pareceu, o mínimo que ele poderia fazer, na minha opinião, era visto como se eu usurpasse e deixasse meus irmãos de lado nesse quesito. enfim o tempo passou quando fiz 15 anos fizemos uma viagem para o Chile, eu não queria ir, minha irmã até hoje não sei, meu irmão queria muito, entendo que sendo homem o peso de ficar longe do pai deve ser maior, no caso da viagem, ou iríamos os três ou não teria viagem, então eu fui, fazer pose e cara de paisagem, ligeiramente tentando manter a etiqueta que nunca aprendi a ter, "não estrague as férias deles" eu pensei, e assim foi, nunca estive mais aliviada do que quando eu voltei, e assim por quase dez anos mal nós falamos, o valor que paga agora é da minha irmã e eu posso relaxar com isso, como nós todos temos vidas separadas de alguma forma, isso é não moramos juntos, nem sei nada sobre isso atualmente, o fato é que surgiu de repente a oportunidade de passar 10 dias lá, na casa do meu progenitor com sua esposa e seus dois filhos e o motivo da minha confusão e culpa foi a vontade de negar ir, eu tenho coisas na minha vida, estou começando a ter compromissos, a universidade, trabalho, projetos pessoais, e seriamente não tenho nada contra, simplesmente não tenho nada a favor, e sinto que tenho coisas mais importantes a fazer do que um retrato de famili Doriana, opiniões que já ouvi dizem que estou sendo "insensível" e outras que "não tem de se obrigar a nada", então vamos para o exemplo que me fez decidir a questão.
Nós vivemos num mundo que descende do machismo e do patriarcado, até pouco tempo, mulheres não votavam, nem trabalhavam, nem estudavam, nem se divorciavam e menos ainda tinham direito a escolher seu noivo, tudo isso era feito por seu pai, na falta dele um parente próximo que fosse homem, imão de maior idade, tio, avó o que fosse contanto que fosse homem, se dicesse responsável e pagasse um bom dote, caso não esteja familiarizado leitor, dote era uma compensação monetária que os noivos ganhavam no casamento, quanto mais nobre a familía da noiva maior era o dote, uma vez que ao casar o homem ganhava a sua independência da sua familia, precisaria do dinheiro para uma boa casa, comida, servos, roupas e o que mais precisar até se estabelecer com seu emprego e passar a manter sua casa, enfim assim nós mulheres eramos sujeitadas a viver, como bonecas numa estante, ou como escravas domésticas dependendo da sua hierarquia social e financeira, e claro não esqueça que caso não tivesse filhos, seria considerada uma péssima esposa, e isso categoriza como plausível a possibilidade de ser substituida por uma segunda esposa, simples assim.
Enfim deixando claro essa situação que existiu historicamente caso queiram pesquisar, um homem era responsável por proteger a honra das mulheres da família, isso é a virgindade delas, uma vez que não poderiam casar se não tivessem honra, e caso não tenha me feito clara, uma mulher que não casase não tinha nenhum meio de sustento, sem trabalho, sem dinheiro, titulo, moradia, nada em absoluto.
Então vamos aos fatos, no meu caso, meu pai em outro país nunca pensou na proteção da honra de ninguém, meu irmão depois dos 8 anos poderia entrar em uma academia de soldados, virar um guerreiro, ou um marceneiro, aprendiz de cavaleiro, guarda, padeiro ou qualquer outra coisa ele é homem, não seria impossivel virar vassalo de qualquer ducado, minha mãe "devolvida" como diziam antigamente, não poderia casarpor não ter honra, mesmo voltando a casa de origem de sua família seria duramente descriminada e tratada como empregada ou pior, no caso dela a família dela não havia homens também, o que gera conflito para a época que discutiamos, uma vez que mulheres não podiam morar sozinhas, isso é sem um homem na casa, isso justificava todo tipo de coisa, invasão, assédio moral, estupro, por isso jovens viúvas iam a conventos, ou quando donas de ducados tinham guardas pessoais, isso assegurava e protegia a honra delas, voltando ao exemplo, minha irmã era um bebê de colo, poderia ser criada por uma família rica como empregada, e tendo seus caracois negros e seus traços finos, e a pele mais clara que a minha, seria bem aceita, claro trabalharia de forma cruel, mas por ser empregada de um ducado, poderia casar com alguém sem grandes títulos no futuro, como um guarda ou um padeiro, um curandeiro enfim, no meu caso por ser mais velha que um bebê e ser de aparência negra dificilmente teria essa oportunidade, minha mãe teria duas possibilidades para ela e eu, poderia nós abrigar num convento, e nunca saberiamos, sobre casamento, filhos ou responsabilidades com a sociedade, essa era uma posição na época vista com pena pelos demais,embora com algum respeito, pois dificilmente as garotas de convento conseguiam um bom casamento e acabavam por findar a sua vida lá, isso quando não ficavam amigas de alguma jovem no internato e viravam damas pessoais das mesmas, ou a opção que era mais comum, se abrigar num prostíbulo, trabalhar com seu corpo, e rezar para que o próximo cliente não surre você, sem a tão importante honra, sendo filhas de ninguém, sem dote, sem casa, sem perntences, uma espécie de propriedade pública cujo o juízo e a moral condenam totalmente, adotar outro nome, e postura e ver conhecidos desviarem os olhos de você ou atravessar a rua para não passarem na mesma calçada que uma "Dama de companhia" como chamavam, essa era a dura realidade das mulheres naquela época. Mas não se apoquente não estou dizendo que o meu progenitor me condenou a uma vida de prostíbulo, até porque estou eu aqui, letrada e fazendo minha graduação, trabalhando na área de atuação que desejo mesmo que por ser mulher eu receba 20% menos, e por ser negra menos 20% isso é 40% menos, quase metade do meu sálario, não é meu por ter nascido mulher, e negra, mesmo assim eu deveria ser grata ao menos eu tenho o direito de trabalhar, já que nasci algumas centenas de anos depois. Claro que uma grande quantidade de mulheres morreram queimadas, e isso foi uma grande conquista, o Dia da Mulher, e claro que muitas mulheres perderam os dedos ao salvar uma das maiores pontencias mundiais da falência após uma guerra usando maquinas indústrias de costura, que foi uma grande conquista para a econômia mundial, claro que mesmo depois de tanto apanhar e sofrer agressões Maria da Penha tenha conquistado as mulheres o direito de não serem agredidas em casa apenas por que são mulheres, essas são grandes conquistas que mudaram o rumo da vida das mulheres de forma geral, mas toda e cada uma dessas conquistas não tem nenhum dedo, nenhum movimento ou decisão do meu progenitor, e com isso não quero dizer que ele não me ama, deus do céu deve amar, ou eu julgo que sim, mas as pessoas não se relacionam com os sentimentos umas das outras, mas com as atitudes delas, e as atitudes dele não mudaram o meu futuro como mulher, negra e sem dote, se hoje minha honra me pertence, não é porque ele tomou alguma atitude sobre isso, mesmo que as consequências em minha vida, o rumo da minha historia seja outro, e isso por questões maiores que nosso relacionamento, a atitude dele ainda foi a mesma, me pergunto se estivessemos em tempos do passado, se eu tivesse cedido a vida em um prostíbulo para ter comida, para ter um cobertor no frio, se depois de tudo isso, de quase dez anos, e quase nenhuma notícia ainda me convidaria para cear o natal em sua mesa, na companhia de sua atual esposa, e de seus dois filhos, que graças aos céus são homens e tem a pele clara, porque mesmo que um dia exista ausência do pai deles, poderão de forma mais segura e menos sacrificante proteger a propria mãe, pagar as suas contas no fim do mês com salários justos, e ter menos olhares, menos preconceitos, menos receios, menos piadinhas para lidar, sendo na rua, no trabalho, num ônibus, ou onde for.
E finalizando o meu flanco nessa historia, me disseram que minha atitude em ter finalmente escolhido não ir, é manipulação por parte daqueles que se rescentem da figura do meu progenitor na minha família materna, ou que estou sendo egoísta, mas então que seja egoísmo, escolher minha carreira, meu trabalho,meus estudos, que seja egoísmo minha paz de espírito, que seja egoísmo dar prioridade em minha vida a quem me é reciproco.
E caso alguma vez em sua vida, queira dizer que o machismo não existe, querido leitor, releia esse texto, pois assim o é, e assim sendo, eu peciso assim ser forte para saber que o mundo não mudará só por mim ou só por você.