Dialogus (I)
- A concepção de matéria que tu tens assemelha-se a de Aristóteles, porém, as formas se assemelham ao não-ente/não-substância de Plotino, tendo em vista, teres posto a matéria como produto da intenção do ser por meio do campo.
- Vejas bem querido aluno, antes que de tua pergunta venha eu elucidar e mostrar-te o quanto estás equivocado, devo eu, meu querido aluno, te contextualizar com algumas questões basilares em que fundamento meu pensar, ao menos nesta circunstância. Pois bem, como observamos na discussão do tratado "O gramático" de Anselmo de Cantuária há palavras que por si não significam, devendo, portanto, ter a sua significação a depender de outras, sendo essa uma possível solução à significação em si.
- Sim mestre, sobre tal livro refleti por demais e pus-me a responder, forçosamente, cada uma das perguntas que assolava-me em indagações.
- E o que por meio delas concluístes meu caro aluno?
- Meu querido mestre, devo de antemão alertar-te que minhas soluções são demasiadamente simples e carecem com toda certeza de rigor, portanto, ocasionalmente como um ato de bondade poderias tu se apossar de minhas soluções ao menos para delas tirar, porventura, algum proveito.
- Não se preocupe agradabilíssimo discípulo, tens, pois, a humildade de aprender e guardas contigo, portanto, a mais cara jóia da filosofia.
- Agradeço-te tão admirável mestre a mim. Penso que desta questão não se fazem perguntas corretas, o mais próximo a que se chega é um tangenciamento, digo, que tens, ó mestre, a substância com as coisas, necessariamente teria ela de ser toda alteridade? E mais basilar ainda, oh querido mestre, não seria ela a parte de toda a natureza, tendo nem mesmo o Aristóteles se aproximado da verdade? Digo, não seria porventura a conceituação um vício a nos causar malefícios?
- Insinuas oh tão sagaz aluno que a nossa busca de tomar posse da realidade última das coisas seja uma busca totalmente infrutífera? Oh querido intrépido aluno, vejo que enganado estava, tua mais destacada virtude é a da coragem, és vivaz em tuas indagações, mas devo alertar-te que também és tolo por muitas das vezes. Bem, vejas caro aluno, para chegar a suspeitar de tal realidade deves de antemão responder outras perguntas que te levam a esta.
- E quais seriam as perguntas mestre?
- Ora, pois bem, vejas, se assume tu que a nossa razão não só pode nos enganar, mas também criar realidades imaginárias, verdadeiras quimeras do conhecimento, deves primeiramente se indagar se tua razão possui algo que a faz ser como tal ou o porquê de ser possível refletir como agora fazes, depois deverias tu compreender como funciona o teu pensar e o mundo para saberes se partilha alguma semelhança ou se são completamente distintas, somente assim, oh querido aluno, poderias assumir a possibilidade de alguma correlação, correlação esta que não implicaria causalidade.
- Oh admirável mestre, observo que minhas possantes perguntas fazem-se ingênuas e reles ante a tua sabedoria, agora, pois, percebo que fui ordinariamente precipitado como o é o pecado dos modernos.
- Oh valente discípulo, não tomes para ti tão gigantesca culpa, pois fazes o teu melhor e poupe elogios, pois estou longe de ser um grande mestre. No mais, tenho algo mais a acrescentar nesse curto e revigorante diálogo, as palavras que de outra dependem para significarem têm com elas uma relação de sobredeterminação e aquelas, por conseguinte, de determinação e que semelhança possuem elas, sequer se as têm, com a subordinação da gramática? E se as têm, seria ela semântica ou outra? Tais palavras se aglutinam em suas significações? Bem, querido discípulo, estas dúvidas contigo ficarão a te assombrar até que o próximo diálogo chegue.