VISITA INESPERADA
Raramente eu sonho, ou raramente lembro dos meus sonhos. Dizem que todo mundo sonha toda noite, mas eu nunca lembro. Por isso acordei agora e já estou registrando, para não esquecer desta vez.
Esta noite eu abracei meu pai. Ele veio comer comigo nos meus sonhos. Foi tão bom abraça-lo e escutar sua voz!
Estávamos numa casa diferente, muitas pessoas em casa, como se fosse uma festa. Meus irmãos e minha mãe estavam lá também. As pessoas se serviam de comida e iam para uma varanda grande, sentar onde desse, como muitas vezes fizemos em nossa casa durante minha infância. Mas não era a varanda da minha antiga casa.
Eu tinha chegado naquele momento, estava entrando na casa quando vejo meu pai saindo naturalmente com um prato de comida. Eu sabia que ele estava bem, e que tinha estado doente, em coma, antes disso, por isso fiquei extremamente feliz em vê-lo ali, em pé, comendo com todo mundo. Quando ele passou por mim eu o abracei por trás, bem apertado, e falei pra ele que estava com muita saudade.
Depois ele se sentou e começou a comer e conversar. Eu pude ouvir a voz dele de novo. Lembro que eu ficava olhando apaixonada pra ele, toda boba e feliz. Ele correspondia com um sorriso.
Quando as pessoas diminuíram e ficaram só os da família, eu o abracei novamente e falei mais uma vez que senti muita saudade. A frase que eu repetia o tempo todo era "Ah, que saudade do meu pai ", enquanto abraçava-o pela cintura redonda, fazendo até umas coceguinhas em seu barrigão. As pessoas que estavam próximas confirmaram pra ele que eu realmente senti muito sua falta. Ele me olha e fala que também sentiu muitas saudades, e disse que ficar internado por dez dias deixa um gosto ruim na boca.
Foi nesse momento que eu acordei. Eu ainda sentia aquela felicidade, pois eu estava abraçada com meu pai, conversando com ele, ouvindo sua voz. Acordei repetindo a frase: "Ah, que saudade do meu pai!" Então percebi que tinha sido um sonho, e comecei a chorar copiosamente, como há muito não chorava, como não pude chorar desde que ele partiu. Ainda sinto, em meus braços, o abraço que dei nele, apertado. Ainda estou com a sensação desse abraço. Ainda estou aos prantos enquanto escrevo, mas agradecida pela visita que recebi esta noite.
Ah, quanta saudade sinto do meu pai!!!
Nota: perdi meu pai para o Covid em 02/05/2021. Algumas poucas vezes sonhei com ele depois disso. Mas esse foi o sonho mais longo e mais real. Ele ficou 10 dias internado antes de partir.