A gente tem pressa
A gente vive correndo.
A gente vive correndo porque tem pressa.
A gente tem pressa porque quer viver a vida.
A gente tem pressa de ver o mundo.
A gente tem pressa de amar.
Mas também tem pressa de ganhar dinheiro.
Muito dinheiro.
Pra viver a vida. Ou achar que vai.
E pra ganhar dinheiro a gente vive correndo.
E correndo, a gente não vive a vida, mas só a vê passar.
E a vê passar correndo, sem entender o mundo.
E sem deixar que o mundo nos entenda também.
A gente vive correndo.
A gente vive correndo pra encontrar uma solução,
sem perceber que o problema, quase sempre, vem de viver a vida com pressa.
E pra encontrar a solução, a gente se apressa ainda mais.
Num ciclo da tristeza sem fim.
A gente vive correndo.
Como se fosse um doido.
Como se fosse um capitalista.
Como se fosse máquina.
A gente vive correndo contra o tempo.
E não é capaz de perceber que o tempo, por si, sempre corre só pra frente.
A gente corre, então, na contramão.
A gente corre pra descer as escadas rolantes que descem.
A gente corre pra subir as escadas rolantes que sobem.
A gente tem hora de almoço.
A gente corre na hora do almoço.
E almoça um sanduíche por não ter tempo de almoçar.
Isto tudo, na bendita hora do almoço.
É que a gente tem conta pra pagar.
E é na hora do almoço que se vai às filas em que se pagam as contas que se deve.
E lá, se paga com o tempo.
E lá, se paga com a vida.
Mas a gente não vê o tempo passar.
E a gente não vê que o tempo é vida.
E a gente não vê a vida passar.
A gente engole, goela a baixo, a ideia de que um dia, a gente vai viver, sem perceber que todo santo dia se deixa de viver um pouco mais.
Porque a gente tem pressa de viver,
mas vive se matando cada dia mais.