As estações

Aquele medo pueril que despertava-me na táciturna madrugada, se concretizou. A primeira vez foi súbita, violenta, sem despedida, inúmeras interrogações, sem desfecho, se perdeu em cinzas ao vento, cada tragada é uma forma de buscá-lo.

Em sua ataúde, sua dignidade estava intacta, robusto, face soberana, embora desvanecida e inerte, o difícil foi tira-lo de minhas orações, até a pouco me pego suplicando por sua vitalidade. A frase do poeta dos " sentidos " não saia da minha imberbe boca ; " Já derramei lagrimas demais, desgosto me assoma".

A segunda vez a despedida foi lenta, houve Tempo, tempo de dizer tudo que queria, e tempo de eu ver o que você mais temia, sua decrepitude desapressada, caquética, sem fome, sem sede, quem me acalentou com seu leite morno até meu período da latência, estava sentenciada a morte, sem saber que o devorador de corpos, ser letal estava consumindo-a. Cuidei de seu já frágil corpo com a mesma superproteção como fui cuidada, papéis se inverteram, natural. Mas acabo com o ciclo do apego que vem de gerações, criando seres mimados, melancólicos, saudosistas, egóicos, com a única vantagem de transferir para a arte todo esse misto de sentimentos, afinal um artista é dotado de conflitos internos, quanto mais carga, mais inspiração.

Substimamos nossa força, a minha é de Atena, tamanha queda passei, nada mais me derruba.

Denise Brunato
Enviado por Denise Brunato em 17/02/2022
Reeditado em 17/02/2022
Código do texto: T7454417
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