Visível cicatriz
Ao banhar pela manhã, nota-se uma cicatriz na mão esquerda, adquirida ainda criança. Percebida com um sorriso, justamente por se tratar de algo superficial, onde, mesmo aparente, desaparece no decorrer dos efêmeros pensamentos. No entanto, contrariando as leis naturais, despreza-se o atrito, seguindo com o coração fechado (ou frio, se for preferível) nos ávidos momentos. Talvez pelo exemplo e entender que qualquer “imposição” de argumentos não seja o melhor caminho. Assim, algumas frases, palavras e principalmente sensações relembradas por outrem, associada a perfeita harmonia de interpretação, uma vez silenciadas pelo “bom” senso, reverberam por dentro, ecoando internamente, sem poder expressar o que significam emocionalmente. Alguns dizem para expor esse outro lado, “colocar para fora”, como se fosse um corpo estranho, porém isso faz parte existencial da história de cada um. Por outro lado, a formosa retórica conquistada num tom escuro, somente vista a noite, fornece, em contrapartida, a mais vil, austera e atroz reposta. E sendo abrupta, num nuance “livre” de emoção (ou sentimento), prefiro continuar observando minha visível cicatriz.