A mulher da casa ao lado
Aqui isolada na frente do computador, eu a escuto. Vozes alteradas, ele tentando impor suas opiniões, ela tentando se defender e ao mesmo tempo atacar. Me parece um jogo de perdedores onde só se vence pelo cansaço. Não dá para entender o motivo da briga, as vozes são indistintas, mas dá para sentir que há muita tensão no ar. Aos poucos as vozes vão diminuindo e se dissipam no ar feito fumaça. Há alguns anos ela mora aqui, trabalha bastante, sei que já não tem mais idade para isso, deveria estar aposentada faz tempo. Conversei com ela algumas vezes. Deve se sentir muito solitária, porque de vez em quando surge uma voz masculina, fica durante alguns meses e depois desaparece. Sinto compaixão por ela, sei que ela só conhece essa forma de ser feliz, por isso nada posso fazer, é uma coisa que ela tem que aprender sozinha. Ela não é a única mulher que encontra um homem, traz para casa e acredita ter achado o amor de sua vida. Infelizmente, na maioria das vezes, esse amor é tóxico, drena suas energias, acaba com sua auto estima, e em alguns casos, rouba toda suas economias. Em casos graves, esses relacionamentos terminam em morte, quase sempre da mulher. Até quando nós mulheres nos submeteremos a tratamentos indignos, desrespeitosos, humilhantes para conseguir uns minutos de felicidade?