CONTRAPOSIÇÃO

Muitas vezes, mesmo que tenhamos a oportunidade da atenção das pessoas e usar de padrões exigentes de prova, não podemos mudar a convicção dos outros.

Entretanto, frequentemente temos pouca consciência das nossas próprias limitações, o que nos leva a agir como se tivéssemos mais certeza sobre as coisas do que deveríamos, particularmente em tarefas que são difíceis de operar.

Quando não desenvolvemos, ainda, um conjunto de esquemas e atitudes essenciais e relevantes para utilizarmos e nos auxiliar a considerar e a responder aos outros, ao categorizar as pessoas é comum as concebermos parecidas ou diferentes de nós. Esta mera separação entre “nós” e “eles” influencia nossa interação subsequente de impressões e atribuições. Isto significa que é fundamental o cuidado ao nos comparar uns aos outros, e não nos devemos medir nem nos devemos permitir ser medidos por simples padrões.

A maturidade é um dos elementos mais carentes e determinantes para a vida espiritual e social. Deve ser salientado que, apesar de as serpentes terem perdido suas pernas, os cavalos continuam com um dedo no pé desde o início da criação, mostrando que a natureza tem suas singularidades em unificar a variedade da vida.

Com a crise global de saúde, também estamos experimentando uma epidemia de solidão que nos causa declínios na saúde física e mental, além de uma progressiva dessatisfação em nossas relações e no desempenho de nossos afazeres, enquanto especulamos ver a luz no fim do túnel dessa catastrófica pandemia, e procuramos formas de antecipar melhor futuras disrupções e nos preparar para a incerteza que se avizinha.

As pessoas mais próximas estão, também, certas de que não podemos saber quantos danos essa moléstia inusitada acabará por causar na nossa vida e nação, apenas com base na experiência de pouco mais de um ano, quando temos feito o nosso melhor para nos manter unidos, contidos e livres de contágio.

Além do efeito devastador sobre a saúde de centenas de milhares e a subsistência de milhões, em parte, a resposta à crise sanitária é uma demonstração grosseira da incapacidade das pessoas em compreender e se comunicar proveitosamente com respeito por aqueles que estão do outro lado de uma posição ideológica.

Estamos divididos sobre a melhor maneira de proceder a partir daqui, mais de um ano depois, desde que o primeiro caso foi diagnosticado no país. Esta divisão é mais evidente e resistente nas redes sociais do que nas pesquisas, onde muitos pensam que o rigoroso fechamento, isolamento e distanciamento são a melhor opção para seguir em frente. Acreditam que a economia precisa permanecer contida por lei até o advento de uma vacina ou algum tratamento eficaz ser desenvolvido garantindo a cura, ou somente um número muito pequeno de pessoas seja gravemente prejudicado ou morto pelo vírus.

Outros defendem que, em “equilíbrio”, as estatísticas de risco de contágio em relação ao detrimento econômico e funcional do país exige que o governo comece a permitir autonomia às pessoas e as empresas para tomarem as suas próprias decisões sobre se é seguro sair em público ou realizar negócios abertamente, especialmente em vista do acesso a medidas profiláticas simples, tais como luvas e máscaras, e a observação de higiene básica. Pensam que vêm muitos custos que os precavidos não estão a considerar adequadamente, e questionam se os benefícios a longo prazo dos fechamentos, isolamento e distanciamento são menores do que o que os cuidadosos acreditam. Este seguimento acusa os mais precavidos de querer demolir a capacidade de vida de quase toda a população, e arruinar quase todos os recursos que a nossa sociedade construiu ao longo do tempo, limitando os instrumentos da maioria do comércio para um futuro previsível, tão avarentos e dedicados estão sobre manter o PIB crescendo, quanto são ignorantes sobre a ciência, a ponto de relevar o risco de contágio que pode causar centenas de milhares, talvez milhões, de compatriotas morrer de uma doença enigmática e impiedosa, porque não compreendem como funciona o contágio.

Apesar disto, à sua maneira, ambos os lados têm uma combinação de razões, teorias, pressupostos e juízos de valor de um tipo que muitas pessoas coerentes costumam fazer, que torna as suas respectivas posições lógicas para eles. Suas apreensões residem na preocupação com a possibilidade de contágio, meios de subsistência e o serviço alimentar, os milhões de desempregados, a redução industrial, a construção, o combustível, quaisquer entidades financeiras ou outras que dependam de rendas e empenhos que continuem a ser pagos, o entretenimento, o desporte, a educação, o direito, e contraintuitivamente os cuidados médicos, toda a produção e comercialização fragilizados, destruídos e incapazes de prosseguir com a antiga habilidade funcional.

Aqueles em favor da abertura do comércio e o abrandamento do isolamento e distanciamento vêm a solução em curto prazo do governo de empréstimos e doações, tanto pessoais como empresariais, nos bilhões de reais crescendo perigosamente, com uma possibilidade real de elevar os sistemas fiscais e monetários debaixo de dívidas, ou de fornecimento de dinheiro que podem tornar-se insustentáveis e demorar décadas a recuperar, além das obrigações já quase impossíveis de manter pensões e outros deveres com a redução das bases tributárias empurradas para um abismo de completa incapacidade de funcionar, com efeitos danosos para os cidadãos.

Demais, é possível conjecturar que a crise de saúde, além da situação de emergência, facilita uma oportunidade para trazer o autoritarismo, o totalitarismo e uma nova racionalidade política, e apresenta as circunstâncias perfeitas para criação de um padrão de governo cuja efetividade excederá outras formas de governo conhecidas, abrindo espaço para violações constitucionais e limitações de direitos fundamentais feitas por decreto ministerial carente de qualquer base legal.

Estas diferenças sobre os procedimentos a serem observados sobre a pandemia, não são meramente uma desarmonia entre idiotas e tiranos, mas essencialmente, sobre tolerar mais facilmente os infortúnios durante a crise e alcançar o melhor desfecho de sobrevivência mais integral possível de todos e dos meios de sustentação da sociedade como um todo, para um futuro mais previsível.

J Starkaiser
Enviado por J Starkaiser em 16/05/2021
Código do texto: T7256604
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