Chegou a nossa vez, meu bem.
Dia desses, mamãe me disse que, vez em nunca, você manda mensagens a ela.
A mim, cabe apenas tentar entender o que você pretende quando busca manter algum contato com a minha família.
A mamãe, causa um bocado de estranheza o fato de eu, depois de já rapagão, chamá-la assim outra vez. “Mamãe” é um vocativo tão infantil, mas eu gosto…
E eu acho que foi depois dois vinte e tantos que reaprendi a chamá-la assim. O medo - e, talvez, a vergonha - de fazê-lo, tão peculiar de um adolescente abestalhado, não me tem mais. E eu também não o tenho. Somos assim, dois distintos separados. E muito bem separados. Como eu e você.
Algumas vezes, eu me pego pensando em nós. No que fomos, é claro. Tentando não alimentar alguma boa lembrança que já nem consigo mais fingir que não existiu. Tem sido cada vez mais difícil.
Pra te ser sincero, acho isso tudo mesmo muito doido. Você não? Digo, acho que isso tudo faz parte do processo, meu bem. Vai dizer que não foi mais fácil me esquecer tentando alimentar sentimentos ruins, amargurando os defeitos meus? Eu sei que sim. Por aqui, também foi assim, mas acho que isso acabou.
Você bem sabe que não existe um amigo melhor do que um novo amor, nem inimigo pior do que um amor antigo. E quando nosso amor venceu, meu bem - isto é, chegou ao termo, não à vitória -, não sobrou alternativa que não apagarmos todas as boas lembranças pra retroalimentar apenas os sentimentos ruins.
Hoje, mesmo sem te querer por perto, eu consigo pensar em você com certa dose de carinho. Dei o nome gratidão, mas não sei precisá-la ou sabê-la ainda. E eu acho até que te esqueci. Ou melhor, que te deixei no passado. Lá é teu lugar e foi você quem quis assim, não é?
Quando tudo caminhou pela estrada do nada; quando eu fechei a porta da nossa - agora sua - casa pela última vez; quando eu saí com mala e cuia para nunca mais voltar, não existiu uma única lágrima tua sequer. Você depositou em mim todo o mal do mundo e eu... Eu engoli como se fosse meu... Como se dele fosse dono... Como se fosse eu.
Mas isso acabou, não é? Não preciso mais te ver com os olhos revoltados por não entender teus motivos de ida. Tua partida não me dói mais. Teu carinho não me faz mais falta. A tua voz gritando aos ventos me amar não quebra mais silêncio algum. E se pensarmos bem, isso tudo faz sentido: pra todo novo começo é mesmo preciso um novo fim. Este é o ciclo natural da vida.
Chegou a nossa vez.