No natal do ano passado
Há um ano, sentávamos à mesa de minha mãe - eu, você e ela - para decidirmos o que seria feito na noite daquele natal. Não que houvesse lá tanta mudança entre o que faríamos naquele e o que fizemos nos outros. Importava-nos sempre reunir nossa família.
Na ceia do natal do ano passado, sua mãe conversava com a minha na sala de jantar. Dizia qualquer coisa sobre como você havia mudado desde quando eu cheguei; qualquer coisa sobre estar feliz com a ideia do nosso casamento; qualquer coisa sobre como, vez ou outra, a vida bate para endurecer e nos preparar para, no final, estarmos prontos para recebermos tudo aquilo que sonhamos. Não disse nada sobre o nosso fim.
Sentamos à mesa extravagante - chamá-la farta seria quase que um eufemismo - e comemoramos. Rimos e, adiantados que só, brindamos o ano que vinha. Felizes e ansiosos pelos planos que tínhamos.
Mas o ano novo chegou e você não parecia mais tão feliz. O ano novo chegou, mas o casamento, não. E o que achei que era tudo aquilo que eu sonhava, na verdade, foi só a vida - maldosa e cruel, como há de ser - me batendo pra endurecer ainda mais. Petrifiquei. E de tudo, o fim, que não havia sido convidado para o natal do ano passado, foi o único a marcar presença neste ano.