Tudo muito estranho
Tudo tem sido muito estranho por aqui e eu já não tenho lidado tão bem assim com as minhas incertezas.
Dia desses, eu me peguei pensando em você. De novo. Acho até que é normal. Lembrei de como tudo foi diferente nesta mesma época no ano passado. O natal chegando, o ano novo que vem junto. Tempo de festa, tempo de crença, tempo de renovações, tempo de amor. E por aqui, tudo o que tenho são as minhas incertezas.
Quem vai sentar à mesa com você neste natal eu não sei. E isso me perturba. Costumava ser eu. Quem vai desejar boas festas à tua mãe eu também não sei. E isso me faz mais triste. Você sabe o quanto gostava de fazê-lo. Quem vai te dar o primeiro beijo na chegada do novo ano... É claro que eu não sei. E parece ser este meu novo hábito quando o assunto é você: desconhecer. Eu, que fi-lo por tanto tempo e com tanto gosto, não mais farei.
Dói-me o peito saber que, neste final de ano, você terá outros ouvidos para conhecer a alegria que sente quando tem a mesma lúdica lembrança de teu avô entrando no quarto na manhã de natal. Era eu quem costumava guardar este teu segredo. Sete chaves ou mais. E isso me fazia sentir alguma coisa boa, qualquer coisa ligada à sensação de ser especial. Agora, eu sei, outro guardará por mim. E ter que me acostumar com essa ideia é custoso demais.
E eu sei, caro leitor, que as minhas incertezas são recorrentes. Incertas, mas agora velhas conhecidas. E veja, futre leitor, que não há confusão entre o incerto e o desconhecido. As mesmas incertezas me são frequentes e, por isso, é que já me são tão conhecidas. Todos os dias as penso, mas tenho pra mim que nem todas merecem conhecer - ou, vá lá, reconhecer - o papel. Sorte têm as incertezas que ganham forma, como foi este dilacerado relato.