O QUÊ NOS TORNAMOS?(parte 2)
“Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas benignidades, porque são desde a eternidade. Não te lembres dos pecados da minha mocidade nem das minhas transgressões; mas, segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor.” – Salmos 25:6-7
O espetáculo da vida é esplendoroso: nascemos cheios de vigor e bondade, estamos sempre dispostos a dizer a verdade e acreditamos em dias melhores. Na vida adulta, aparentamos estar sempre esgotados e criamos uma personalidade seletiva: ora mentimos, ora somos benevolentes e sinceros.
O quê nos tornamos? Antes, vivíamos para desfrutar do bem em comum e isso sempre nos empolgava, éramos cheios de vida. Agora, somos sisudos e bastante desmotivados, entramos em embates absolutamente desnecessários e a história não é mais contada de maneira unívoca.
Nossos momentos de descanso servem mais para pensarmos em quais argumentos, quais recortes podem endossar as nossas opiniões – nos dando a primazia, se comparados aos nossos ‘rivais’ que pensam de maneira distinta. Nos enchemos de vícios que mais se parecem com monstros de estimação por debaixo de nossos capuzes.
Ao conversar com minha namorada, falava sobre como certos conflitos existenciais transcendem à razão e tornam-se estritamente biológicos e podem corroborar para essa segregação; um mero impulso, como algo que foge do nosso controle e se torna enraizado na sociedade. Um novo nome nos foi dado a esta disputa desenfreada: liberdade de expressão. Este conflito vai além das relações sociais e acaba nos destruindo física e espiritualmente. Vejamos.
Enquanto escrevo isso, vejo pessoas empenhadas na defesa ou contestação da prática do aborto – inclusive meios evangélicos renomados, sem falar da esfera política que se aproveita da situação para fomentar mais um curral eleitoral. Mas, realmente somos dignos de ditar o que é correto e o que deve ser abominado pela sociedade? Antes de tudo, conseguimos eliminar todo o embaraço que existe em nossas mentes?
De fato, chegamos na condição de interferir em aspectos que antes nem imaginávamos. Esgueiramos nossos olhos atentos e, por vezes, brincamos de ser ‘deus’ com todos aqueles que nos cercam. Todavia, em que momento, em qual reflexão, em qual discussão assumimos que temos erros inerentes ao que a humanidade vem se tornando? Todos nós temos uma grande parcela de culpa pelo caos no qual vivemos. Quando nos foi incumbida a capacidade de alterar quem somos? Não estou a falar de aspectos geopolíticos, econômicos e tampouco culturais, falo de nossa mais elementar essência.