Encontro

Ontem conheci uma pessoa

Era apenas uma pessoa qualquer, sentada num bar qualquer, desta cidade qualquer.

Geralmente somos nós mulheres que somos convidadas a ter companhia em uma mesa solitária.

Mas ontem, era como se aquela pessoa ali, sozinha naquela mesa.

Estivesse me esperando sei lá pra quê, mas por quê.

É que ontem, eu precisava, eu queria.

E é isso que me deixou inquieta.

Como se um desespero tivesse invadido minha solitude.

Aquele desconhecido solitário, mas com um olá tão convidativo que me fez pedir uma cerveja e sentar ali.

Ele é daquelas pessoas que te encantam só pelo sorriso largo.

É daquelas que tu quer demorar para soltar a mão,

Quer demorar sair do abraço,

Sair da conversa,

Do contexto e do tempo.

Ontem conheci uma pessoa.

Não que conhecemos profundamente alguém assim, no primeiro encontro.

Mas aquelas horas que ficamos ali, perdidos naquela vontade eterna de só ficar.

Como se não tivesse nem o bar, nem a cidade, nem nada mais!

Perdemos a noção da noite, do tempo e do que era aquilo.

Para mim, uma pessoa que consegue me fazer querer ficar por horas, nem é gente

É uma abdução.

Ontem era sábado, seria só mais um sábado daqueles que vivo.

E morro no Domingo.

Hoje é domingo e não quero morrer, não estou morrendo, estou aqui, vivendo cada pedaço que me foi sugado e cada pequeno detalhe que absorvi.

Daquele estranho que conheci.

Que me permitiu conhecer, me conhecer.

Conhecer até mesmo essa minha vontade de querer permanecer que nunca tenho.

Queria e quero, ficar ali.

Naquele abraço demorado.

Naquelas palavras tão surreais.

Naqueles pensamentos que trocamos.

E principalmente no que não podemos dizer.

Tinna Mara de Camargo

2020.04.26

Tinna Mara de Camargo
Enviado por Tinna Mara de Camargo em 04/08/2020
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