Promessas de amor próprio
Eu tinha prometido a mim que nunca mais salgaria a face se as lágrimas tivessem você como razão. E como se numa promessa de amor próprio, eu me proibi de te chorar. Feria-me o ego a ideia de sofrer por tua - tão articulada e premeditada - ausência.
Eu sei que até me parecia educado - mas, veja, eu não sou de seguir etiquetas e tenho servido bem aos vexames - te chorar depois do fim. Era o que esperavam de mim. Era o que você esperava que eu fizesse. Eu - que tanto amei e zelei - deveria dar vazão aos sentimentos de dor e desespero e bem fazê-lo como senão aos prantos? Você assistiu, como quem vidra os olhos em um espetáculo burlesco, ansiosa por meu fim, mas a obra ainda não estava encerrada, meu bem.
Eu nunca fui de ameaças - eu te disse - e quando eu digo que estou saturado é porque pra mim já acabou.
- Sem muito aviso prévio? - você perguntou.
- Sem nenhum aviso prévio - eu te respondi.
E foi assim que você conheceu a sensação de segurança. Nessa sua visão tão distorcida do mundo, te trazia conforto a ideia de saber que não me existem meias palavras. Era, essa, a garantia de que eu não faria do amor um jogo.
Eu tive medo. Muito medo. Medo de te perder. Medo de não entender se você me desse sinais de adeus. Medo de me desencontrar de mim quando acordasse e não te visse ali. E tive medo do que encontraria quando me olhasse no espelho. Eu não era um monstro e você sabia, mas fui capaz de tudo para te manter por perto.
Pouco antes do fim, eu entendi que o amor tem um quê de mudança. Eu te dei mais avisos prévios que devia e ameacei de ir embora algumas dezenas de vezes... Em todas elas, você me deixou ir porque não te assustava a hipótese de tudo dar errado entre nós. A mim, sufocava.
Foi no seu adeus que você me disse “eu não sou de riso frouxo“. E eu lembrei do livro vermelho. O que você queria era me deixar clara a ideia de que palavras não te impressionavam mais, mas - depois de tanta entrega minha - o que mais você esperava além destes versos descabidos?