Sobre expectativas

Não criar expectativas não é simplesmente sobre não esperar absolutamente nada do outro, quase como uma espécie de indiferença. Essa até poderia ser uma definição de "não criar expectativas", mas de um extremismo quase cruel, motivado pelo medo constante de vivenciar um final. Pressupõe-se: "se nunca começar oficialmente, não terei que chamar de fim".

Entretanto, o problema das expectativas está muito mais em assumir que só existe uma maneira específica de demonstrar o sentimento, o carinho, o afeto. E, assim, assumir que qualquer coisa diferente disso representa uma intenção ruim ou falta de atenção, de interesse. E é justamente ali, nessa espécie de prisão rígida, que mora o começo do fim de muitos relacionamentos. Transformar as expectativas em ingredientes inflexíveis - em dosagem, tipo, ordem - é receita para frustração. Eu gostaria de propor uma nova perspectiva sobre "(não) criar expectativas", desatrelando-a do conceito de indiferença.

Assim, se você me perguntasse hoje, eu não mais diria "não tenho expectativas". Eu lhe diria: "Minhas expectativas são de que sejamos felizes. E se isso puder incluir você e eu, eu ficaria ainda mais feliz. Mas, quanto a nós, só espero que possamos sempre ser espontâneos um com o outro, cada um à sua maneira - não existindo um jeito errado de fazê-lo. Espero que a convivência seja gostosa, mas, que, se um dia parar de ser, não nos sintamos presos um ao outro. Espero que possamos manter o coração leve, sem medo de tentar, e sem medo de talvez concluir que nossas felicidades seguem rumos diferentes.".

Talvez assim eu tivesse soado menos indiferente, pois não era essa a intenção. Mas a sociedade cunhou uma conotação tão negativa para expectativas, que, naquele dia, não ousei ter nenhuma. Pelo menos não com esse nome. Felizmente, a espontaneidade e a leveza já habitavam meus pensamentos. E, no fim, soubemos partir com graça, talvez um pouco mais maculada do que o necessário. Mas estávamos aprendendo - sempre estamos - e espero que hoje tanto você como eu sejamos um pouco mais maduros e um pouco mais felizes por ter sobrevivido ao que passamos.

Dancker
Enviado por Dancker em 19/07/2020
Reeditado em 19/07/2020
Código do texto: T7010559
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