O buraco da solidão
Quando eu tiver perdido tudo, e todos, e não restar mais nada, nem ninguém, será que terei alcançado o auge da solidão? Fico pensando se esse vazio não é intensificado pela expectativa de ser preenchido, de modo que, uma vez concluído o doloroso processo de perda, só restará à solidão diminuir. Pois já não haverá absolutamente nada disponível para encaixar nesse buraco que ficou. Enquanto a ferida da ausência fica se iludindo sempre de novo com a esperança de encaixes perfeitos, ela cresce, alarga-se com o contato. E quando chega a hora da despedida, o vazio torna-se ainda maior do que antes. Mas quando não resta nada, nem ninguém, para intervir no processo de cicatrização, será que o buraco não começa a fechar, sozinho? Seria, então, a certeza de que não existe mais chance alguma de preencher o vazio com algo externo - nada mesmo que possa despertar qualquer esperança, qualquer ilusão - a cura derradeira para a solidão? Até que o buraco desapareça completamente e já não faça sentido algum pensar em colocar algo ali.