Um dia chuvoso
No último dia em que nos vimos, eu nem conseguia te olhar. Sabíamos que aquele era o fim, pois já tinha sido, dias atrás. Nem sei porque aceitamos esse epílogo sem graça; a história já tinha acabado e não havia mais nada para acrescentar. As barreiras já haviam sido restabelecidas e a distância entre nós era infinita, e você lá, ao meu lado. Eu nem sabia que palavras usar, pois nenhuma que eu escolhesse poderia consertar qualquer coisa, e esse também já não era o objetivo. Tentamos uma combinação incompatível. E tentamos tão bem que quase me fez acreditar. Que quase nos encaixamos, não? Mas, naquele dia, voltamos aos nossos universos distintos, e nos despedimos quase como desconhecidos. Tão previsível, lá estava a dor. Se vou ter que me fechar de novo, não sei nem porque abrir as feridas antigas. Por que confidenciar segredos a um futuro estranho? Que insiste, enquanto já sei, como sempre. Não quero usar o passado como modelo para o futuro, mas qual a diferença entre isso e ter aprendido a lição? Não quero mais desconhecidos que me conheçam tão bem. Não quero mais fantasmas na rua para me lembrar da morte daqueles que continuam vivos apenas para o resto do mundo. Naquele dia chuvoso, nenhum de nós olhou para trás, porque bem sabíamos que a verdade era que já não estávamos mais lá.