Vendaval
Eu desejo que esses ventos cessem, pois já levaram muito do que fomos e do que poderíamos ser. Eu gosto de ventos, na maior parte das vezes me autorizam a liberdade e experimentações oportunas. Mas, esses de agora, nunca senti por aqui. Tanto que nem consigo me comunicar. Estão rompendo as conexões e isso é perigoso.
O vendaval está forte, turbulento e desconsertante. Espero que as bases estejam sólidas o suficiente. Alicerces firmes permitem reconstruir incessantemente. Reinventar é importante. Você muda uma janela de lugar, abafa o efeito dos ventos perigosos. Muda uma porta, uma parede. Ou deixa derrubar e depois reconstrói.
A reconstrução pode ser difícil. Nem sempre podemos contar com o desejo, disposição e boa vontade dos envolvidos. Já faz um tempo que eles sopram, eu sei. Faz um tempo que, como lâminas, nos perfuram. Dói, eu sinto. Mas eles cessarão. Confia em nós. Confiemos no tempo, ele que é o maior domador de ventos.
Espero que, quando os ventos cessarem, estejamos com energia para edificarmos. Somos artesãos. Com o corpo moldamos a realidade. Vamos nos resguardar. Cultivar a pouca energia que temos. Quem sabe com isso poderemos sustentar as estruturas até então moldadas. As pontas dos meus dedos estão fervilhando, há potência neles. A vontade ainda está acesa. Um território que os ventos ainda não alcançaram. Estou cuidando para que aqui não cheguem. Cuida desse lado aí também.