DOS OUTROS QUE NOS POVOAM COMO UM MITO ANTIGO

Quando seremos salvos de nós mesmos pelo futuro dos outros que nos povoam em segredo?

Quando será realidade aquele novo dia de qualquer outro mundo, de um outro povo, que crandestinamente nos habita a casa e o corpo?

Por onde anda o duplo que nos espreita no avesso do presente, no limite do agora?

Somam -se em nós, em nossa inconsciência, subterrâneas insurgências, pluralidades de caos e potências, contra tudo aquilo que nos faz verdade, que nos apodrece em angústias, entre o prazer e o desejo das coisas mudas , entre a fantasia da dicotomia entre sujeito é objeto.

Há algo de insano, de intempestivo e obsceno em nossa imanência, há algo que nos impede de seguir em frente, de continuar inerte no pesadelo do nosso desastroso progresso e agir consciente em caduca razão.

Somos povoados pelos fantasmas e sombras de imaginações selvagens, assombrados pelas siluetas do sem nome que crescem a margem das gramaticas e representações, das ordens, das normas, e das instituições de nossa falida civilização moderna e suas vis ambições !!

Há uma pluralidade de outros dentro de cada um de nós, um eu impossivelmente absoluto no avesso dos rostos que desaparecem na face etérea das multidões.

Há uma esperança, um dizer selvagem que escapa a linguagem, as disciplinas e verdades de Estado e a fantasia de um pacto social nefasto.

Estes outros que nos povoam e nos salvarão um dia, são os filhos bastardos do nosso prometido amanhã racional, aqueles que nos arrancarão o chão, a memória, e a tradição, através de alguma virtual catástrofe global. São eles os invisíveis semeadores de abismo, os agentes da desmedida e do caos, cuja relativa proximidade íntuimos em sonhos, presságios e arte como uma horda de selvagens e marginais. Eles já estão a caminho do amanhã no fundo de nós inspirados por Eros e Hades.