As vozes...O luto...Minha dor...

Quem se importa se seus destroços são visíveis?

A tarde cai e as vozes se repetem, as bocas se movem

E sorriam e falam e me atormentam...

Ninguém se importa se meus olhos estão tristes ou se meu peito se contrai em dor.

Afinal porque se importar?

Tudo que importa é que meus ouvidos estão saudáveis e podem ouvir.

Quem se importa se meu coração está em pedaços e a morte arranha minha alma com a ponta da gadanha?

A tarde avança, mas as horas parecem congeladas, e as bocas se movem, as vozes...

Quem se importa se você não quer ouvir? Se você já tem vozes demais na cabeça?

Quem se importa se seu grito está abafado no peito?

Seria demasiado egoísmo pedir silêncio? Pedir um deserto ao redor?

Seria demasiado egoísmo pedir que todos se calassem para que eu lidasse com meu luto? Sentisse minha própria dor?

Quem se importa?

Tudo que importa é que meus ouvidos podem ser emprestados, usados, alugados...

Se meu olhar está perdido, preso em um horizonte longínquo, não importa.

Eu sigo ouvindo, as vozes dos outros e as enlouquecedoras vozes na minha cabeça.

Sigo caminhando, postura ereta, mas o sofrimento me contorce.

E a dor, e as vozes, e os desabafos, e meu grito.

Meu grito abafado.

Isolado.

Amordaçado.

Sedento por um deserto para se soltar.