Momento
Estou aqui sentado, pensando novamente. As vozes que antes pareciam vir de algo atrás de mim, agora encontram-se dentro de minha mente.
Fracassei, e continuo fracassando, aqui vou guardando os registros, como se o próprio corpo, através dos dedos, tentasse escapar dos chicotes de meus pensamentos.
Eu já não sei o quanto do como eu interpreto o mundo é real, eu não sei se o que sinto, se o que penso, se me pertencem ou se é algum tipo de mau, convidado ou invasor, eu não sei. Mas sei que lutar contra a forma como eu me sinto ao enxergar o mundo é necessário, os pensamentos não são mais planejamentos, sonhos, desejos, agora são apenas dedos, vozes apontando as desgraças e os erros, apontando a inferioridade que só existe dentro de mim, como se a própria gravidade tomasse esta forma para pressionar-me para baixo.
Não importa, so importa como eu me sentirei ao terminar estas palavras, e a tentativa já alivia por estes breves momentos. Eu já acreditei em demônios, já acreditei em anjos, depois não acreditei mais, mas hoje eu acredito que são apenas palavras para os padrões elétricos que em meu cérebro despertam as desgraças mentais que eu tento evitar. O grande problema, é achar o caminho e se sentir incapaz de trilhá-lo, é ver as engrenagens do pensamento, os caminhos que a vida vai percorrendo, e cansado de persistir por tanto tempo, não ter mais força para mudá-los, deixar que a apatia se instale e que a decadência chegue pouco a pouco. É um egocentrismo como se o mundo fosse meu carrasco e eu fosse o pobre coitado precisando de misericórdia, o mártir da redenção do mundo, o sonho desfigurado em loucura que vai preenchendo as lacunas do propósito da vida. O descontentamento em ver a rua escura quando se busca luzes e diversão, as palavras que sozinhas deixam escapar a loucura de quem não sabe o que pensa nem o que sente no coração. Uma frieza de sentimentos que aos poucos se instala, que é necessária mas também é indesejada, pois leva as cores do sofrimento e a esperança de futuro com melhores momentos.