Esse cemitério de desesperança

Até onde conseguirei levar essa minha insegurança, ansiedade e estado deprimido? Tenho medo do novo, de sair da zona de conforto, de me jogar frente à avaliação dos mestres caquéticos das universidades. A vida na academia é feita de conversas de bastidores, é um teatro selvagem em que apenas os mais “fortes” sobrevivem. O sexo, a amizade, a relação interpessoal contam como fator subjetivo em determinadas escolhas. Por vezes sinto esse peso todo como uma espécie de concreto frio que tente a esmagar o meu crânio. São dores de cabeça, preocupações, ansiedades. E no fundo eu sempre retorno àquela pergunta: a busca de uma remuneração e diferenciação social necessita de um ambiente doentio assim? Onde as pessoas enxergam ciência e conhecimento, eu vejo nas entrelinhas bastante soberba, desconfiança, manipulações e planos. É uma corrida constante em busca de chegar ao primeiro plano, e sempre, sempre e sempre precisamos ser mais, melhores e resilientes. Fico me perguntando se tivéssemos a condição de ter moradia, educação e saúde digna se boa parte dos estudantes e pesquisadores ocupariam de fato esse lugar. Será que o discurso do amor às Ciências está transvestido de amor ao Deus dinheiro e ascensão social? Em que ponto erramos, em que caminhos nos perdemos para nos encontrarmos nesse desfiladeiro de ansiedades, angustias e frustrações? A corrida por uma vida confortável, a idealização do que seja ser “Doutor” ou “Mestre” leva a reboque, quando comparamos a situação geral de nossa população, uma forma de diferenciação social? Qual o ponto central ou o que nos motiva de fato a realizarmos pesquisas e aguentarmos as intrigas, falsidades e dissimulações desse meio? Sim, isso tudo me entristece, fico a imaginar o trabalhador braçal que vive sob regime de exploração e me vejo rodeado de pessoas que querem ascender socialmente através da universidade utilizando à ciência, o sexo e a amizade como uma forma de chegar ao topo. Nunca será um processo impessoal e moral, haverá preferências, esforços homéricos para determinadas empreitadas. Não temos como nos desvincularmos da condição material que nos condena a mesquinharia, sempre vamos tender a esse lado dos interesses e das projeções em um terreno repleto de ansiedades e angustias. Não sou otimista quanto a isso, tendo a cultivar o pessimismo da inteligência em meio a um cemitério de desesperança.

Quaresmo
Enviado por Quaresmo em 19/02/2020
Reeditado em 21/02/2020
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