Todo monólogo é um diálogo
Em monólogo, uma pessoa conversa consigo mesma. Cria, para si, um outro eu, um personagem imaginário, seu interlocutor, que a ouve com atenção, atenção que nenhum outro interlocutor pode lhe dedicar. Não raro o monólogo se dá porque a pessoa não encontra um interlocutor que pode com ela manter uma conversa franca, sincera. No monólogo, o interlocutor da pessoa que está a dialogar consigo mesma tem a mesma inteligência dela, entende-a, tem intimidade com ela, conhece-a tão bem quanto ela se conhece; conhece-lhe as desilusões, as frustrações, os medos, os desejos, as vontades, os pensamentos mais íntimos; convive com ela durante vinte e quatro horas por dia, e tal convívio cria entre a pessoa e a personagem que ela concebe em imaginação para com ela palestrar um vínculo que se fortalece a cada entrevista. E amadurece a pessoa que se dedica a diálogos tão sinceros, tão íntimos.
Não é exagero, tampouco absurdo, dizer que há pessoas que, dialogando, em monólogo, consigo mesmas, criam para si interlocutores mais inteligente do que elas, e durante as entrevistas com elas elevam-se em inteligência.
Infelizes são as pessoas que, insensatas, concebem para si interlocutores estúpidos, incultos, imbecis.
Ao ver-se em um monólogo, cabe à pessoa que se preza imaginar um interlocutor inteligente, sensato, sábio, e entregar-se à conversa com ele de peito aberto, dispor-se a, reconhecendo-se ignorante, apreender as lições que ele tem a lhe oferecer.