Sozinhês

Nesse ritmo de sozinhês e aparente calmaria, todos os fantasmas se sentem convidados a caminhar pela casa, pela mente pelos buracos de todas as fechaduras. Entram e saem sem pedirem licença. Após meses resolvendo conflitos, me retirando de alguns lugares que me eram quistos para evitar interpretações errôneas sobre quem sou ou como me movo no mundo. Recordei então uma linda indagação que me fizeram "qual a diferença entre se sentir vulnerável e permeável?"

Pensava:

-Não é fácil sentir a exposição, os olhos desconhecidos que te captam contra a sua vontade, olhos vorazes, bocas e dedos sem tatos, sem vocabulário, sem contexto para tecer algo sobre você.

Depois disso passei a ouvir os rumores de perto, até achar que era um certo tino, ou síndrome de perseguição. E me condenava por ter o coração "tão exposto", como diria Hilst. Passei a ouvir a grosseria na minha frente, a me virar os olhos debochada e mimadamente (será que essa expressão existe?). Passei então a separar o que era meu (e necessitava de reparos), e o que era do outro, que verborragicamente não passava de uma projeção. Fazemos isso o tempo todo, com todos, com tudo.

Hoje me defenderia do mundo com Lispector dizendo: “Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter, calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz.”

Ao mesmo tempo olho para o vazio e só me peço para que ele me olho de volta, de frente, que me conceda uma espécie de mão. Nesse momento todos os fantasmas gritarão bem perto dos nossos ouvidos. Nesse momento bailaremos juntos ao som das inquietudes dos dias que só nos dispersam de ser.