[ELES] VISITAM A BAHIA, COMO QUEM VÊM AO ZOOLÓGICO.

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Uma mulher de meia idade com sotaque sulista, acompanhada da família composta de "Gente de Propaganda de Margarina e Planos de Saúde", me perguntou: “NA BAHIA, vocês tem tantos gatos pra se proteger de ratos nas ruas?”.

Em uma frase ela resumiu o ano de 2019 pra mim... Ela resumiu o que pensam do nordestino: Um ser vivo que vive num passado perdido, nos confins de um pedaço enorme de Idade Média. Cegos, burros, emporcalhados, imbecis, alienados, escurecidos… FEIOS!

... Inferiores, inferiorizados.

Deu pra sentir um desacordo dos mais jovens, com ela. Não que eles pensassem diferente, mas ao menos um senso de não ofender em voz alta. Não sei se é respeito... Talvez seja medo. Ela era nojenta. Repugnante. Ela fedia a protetor solar e eu podia ver meu reflexo em seu rosto enrugado e empapado de suor e de cremes. É o tipo de monstro que o apreciador de contos de horror aqui tem verdadeiro pavor...

“temos muitos gatos por que estamos sem programa de castração e por que gostamos de gatos”, respondi. Com certeza estava mortalmente sério. Dentro de mim eu queria que pegassem um avião pra casa deles no "Brasil, O País do Futuro". Dentro de mim eu desejei a Bahia esquecida, dividida [e não visitada] e eles que se engolissem, pois aqui A GENTE SE VIRA. A gente se garante... A gente se quer.

Dois amigos meus, o músico Gregory Baratoux e o escritor Leo Resende, chegaram trazendo alegria recitando em boa altura, sem fraquejadas, sem engolir saliva [a fim de evitar o gaguejo] poesias de Manoel Bandeira, E isso fez o grupo se afastar como insetos evitam azulejos recém-faxinados… Limpos… Lustrados.

Dizem temer os ratos... Mas fogem da cultura viva e manifestada.