O QUE NOS TORNAMOS?
O dia se encerra e calmamente meu espírito se entristece; por mais que minha voz animada e meu semblante entusiasmado digam o contrário. No entanto, não é nada tão grave! Sendo facilmente resolvido quando eu estiver em meu lar, podendo desfrutar de muita culpa e aflição.
Enquanto ainda não chego, olho pela janela do trem o vai e vem dos prédios e pessoas; penso bastante. Dentre as inúmeras coisas, sempre adorei refletir sobre as questões existenciais presentes no mundo contemporâneo. Uma das mais fascinantes: a drástica transformação que passamos ao longo dos anos. Se você ainda não entendeu o que quis dizer, te convido a ler as próximas linhas.
“Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas benignidades, porque são desde a eternidade. Não te lembres dos pecados da minha mocidade nem das minhas transgressões; mas, segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor.” – Salmos 25:6-7
Nascemos cheios de vigor e bondade, estamos sempre dispostos a dizer a verdade e acreditamos em dias melhores. Na vida adulta, sempre estamos esgotados e criamos uma personalidade seletiva: ora mentimos, ora somos benevolentes e sinceros. O que nos tornamos? Antes, vivíamos para desfrutar de aprendizados constantes e isso sempre nos empolgava, éramos cheios de vida. Agora, somos sisudos e bastante desmotivados. Nossos momentos de descanso servem mais para pensarmos no quão sabotados estamos e anulam uma real transformação de vida. Nos enchemos de vícios que mais se parecem com monstros de estimação por debaixo de nossos capuzes.
Com esse cardápio de pecados e vícios, nos escondemos por trás dessas feras numa tentativa desenfreada da busca de alívio. Para que tal situação se torne sustentável, apelidamos tais monstros com o que realmente queríamos, lá no início: amor próprio, reciprocidade e até mesmo dizemos que é dá “Vontade de Deus” sermos assim. Lá em cima, falei da nossa ida à casa – muitas vezes o real abrigo de nossos monstros internos. Lá, nos fechamos para a realidade e alimentamo-nos de pensamentos e modos de vida paliativos. Isso é refletido em explosões de sorrisos e um sucesso social estupendo. Mas, no relento da madrugada, nosso espírito clama por socorro.
E quando realmente decidimos mudar, o despertador toca e recomeçamos tudo novamente. O que nos tornamos? Prezávamos tanto pela ordem dos valores e pelo respeito mútuo. Agora, não respeitamos nem mesmo os limites de nossa própria espiritualidade. Nos enchemos de artifícios para burlar o sistema. Eu te desafio a passar um dia sem os seus monstros, ditos fiéis escudeiros. Se você sentir revolta, frustração e até mesmo negação, onde está a sua liberdade? Nos dias de hoje, que lutemos contra a dominação de nossas próprias aberrações. O que poderíamos nos tornar?