Aldeia das Flores

"Eu nasci homem. Com ele nasceram também as obrigações e diretrizes de um arquétipo sem sustento. Fui obrigado a não chorar, dizimado na culpa, na dor e no inferno contrastante da mudez que afogou muitos sorrisos. Fui ensinado a ser macho. Cortar o cabelo, falar direito, bater de volta, estar alerta e defender com afinco o que lhe fora estipulado. Por força do universo aos poucos, neguei os papéis para assumir o caminho perigoso: dar luz a mim mesmo. Nasci como um Deus que em um ciclo de vida e morte aprende a se conscientizar dos

lixos e toxidades de um mundo másculo, viril e destrutivo. Sou providência de minhas emoções, anseios e verdades. Aprendi a ser Pajé quando era pra ser macho. Pude ser menino quando era pra ser macho. Assumi ser poeta quando era pra ser macho. Sorri, amei e chorei quando era pra ser macho! Descobri nos arquétipos a aceitação e o reconhecimento de que em mim existe também uma mulher, uma fêmea, isso tornou-me sagrado. Romper com o elo do cativo esquema já suplantado foi o alvorecer de um dia belo e tempestuoso.

O homem da casa é filho do mundo, um rio que se espalha onde chega e destrói as bases tóxicas da tribo que não lhe agrada para construir sua aldeia.

Publicado no Fanzine "Dramas de um Macho Intoxicado"