Sons da inocência
Disse incansavelmente pra minha psicóloga, não me sinto seguro, mas ela custava a entender o meu conceito de "seguro". Confesso que também não tenho tanta certeza para afirmar com todas as palavras o que é segurança pra mim. Qual foi a última vez que eu me senti seguro? Pensei na vez que desmaiei no segundo ano de pré e, coincidentemente, meu pai estava de férias e foi me buscar na escola — coisa que nunca mais ocorreu. Mas eu não me sentia em paz o suficiente, sempre em estado de alerta, sempre ansioso pra algo que pudesse ocorrer, sempre com as unhas mais curtas possíveis. Não me sentia seguro com meus avós, percebia a inocência deles, muitas vezes prejudicial. Não me sentia seguro com a minha namorada — não que eu devesse me sentir, mas foi algo que projetei nela. Muito pelo contrário: momentos de extrema fragilidade imbecil que a adolescência proporciona foram transformados em confusos traumas. Eu achava que podia confiar nas pessoas, as mais próximas, as mais restritas. Achava.
Mas tento me convencer de que não sou a pessoa errada. Eu acho que não.