"O destino dos meu livros"
“Não deixarei para desfrute nenhum bem material, destes que promovem discórdia e desenlaces; mas deixarei àqueles que tanto amo – e que confesso, são poucos - os meus guias e mestres.” Listados em um velho caderno, cuja capa já esboça o envelhecido tempo, há nomes como: Machado de Assis, Dostoiévski, Gabriel Garcia Márquez, Nélida Piñon, Gregório de Matos entre outros.
Não creio que causará nenhum mal a partilha de tais livros, pois percebo que meus familiares desconhecem a força e riqueza que cada um deles possui. Por exemplo, com Machado aprenderiam a utilizar, de forma defensiva, o seu hábil trejeito e sua destra argumentação, e para combater ao inimigo nada mais avassalador do que a sutileza ironia machadiana. Há também, com o mestre russo, a capacidade de transformar a “catarse” em grande valia (termo este, que Marx explica – há dois exemplares em minha lista, sendo um dependente do outro), além deste, cito ainda “Gabito” que tanto me ensinou a viajar nas estórias (e história) que me foram contadas, não rejeitei nenhuma. Não posso deixar de citar a ardilosa escrita do “Boca do Inferno”, que chegou ao seu ápice com a narrativa de Ana Miranda (que também está no meu acervo – paupérrimo, mas é um acervo).
Há ilustres mulheres que, sendo lidas, podem transformar até homens rudes; são as divas que enfeitam as minhas prateleiras, são perfumadas e belas, mesmo quando os exemplares já demonstram certa idade, como por exemplo, os belos versos de Cora Coralina ou até mesmo Clarice em “Água Viva” que já demonstra desgaste natural.
Esta minha “vasta” herança, se avaliada não propiciará a nenhum beneficiário valores, mas garanto que em cada um deles poderá viajar até mesmo para planetas jamais explorados (é o caso do Planeta do Pequeno Príncipe).
Tenho absoluta certeza que deixo em boas mãos tais objetos, e adianto que é uma mãozinha acostumada a folhear livros e admirar figuras (ainda é uma criança, mas encanta-se com as estórias contadas por mim).
Lembro-me que durante minha gravidez – uma gravidez extremamente feliz – lia e relia alguns contos infantis, e quando era preciso uma leitura adulta, a fazia em voz alta, como se estivesse a representar tal fala. Era uma leitura compartilhada, tanto que hoje, a dona das mãozinhas pequenas não dorme sem que eu leia algum texto; às vezes até pede para que eu as crie.
“Mas a mamãe escreve para adultos”, sempre argumento desta forma, mas ela sempre responde: “mas se você explicar, eu vou entender”, nem sempre leio exatamente aquilo que escrevo, há coisas que o tempo lerá para ela.
Nem sei ao certo o que me leva a rabiscar este suposto “testamento”, o que eu; modestamente, acho desnecessário. Mas, hei de deixar claro o destino dos meus livros, e isso já o fiz nas linhas acima.
Meu leitor, amigo ou inimigo; não pretendo aspirar tão já, mas a falta do que escrever leva qualquer pseudo-escritor a divagar, cheguei até pensar nos vermes, mas plagiaria Machado deslavadamente. Não nego a analogia, que tanto almejo (e sei o quanto é difícil atingi-la) mais me rendo ao meu amadorismo, que num futuro outro título possivelmente ganhará.
Não há um fim na morte. Há apenas o mistério, que para os poetas torna-se combustível. Escrevo em vida o que ela própria me concebeu.
“Não deixarei para desfrute nenhum bem material, destes que promovem discórdia e desenlaces; mas deixarei àqueles que tanto amo – e que confesso, são poucos - os meus guias e mestres.” Listados em um velho caderno, cuja capa já esboça o envelhecido tempo, há nomes como: Machado de Assis, Dostoiévski, Gabriel Garcia Márquez, Nélida Piñon, Gregório de Matos entre outros.
Não creio que causará nenhum mal a partilha de tais livros, pois percebo que meus familiares desconhecem a força e riqueza que cada um deles possui. Por exemplo, com Machado aprenderiam a utilizar, de forma defensiva, o seu hábil trejeito e sua destra argumentação, e para combater ao inimigo nada mais avassalador do que a sutileza ironia machadiana. Há também, com o mestre russo, a capacidade de transformar a “catarse” em grande valia (termo este, que Marx explica – há dois exemplares em minha lista, sendo um dependente do outro), além deste, cito ainda “Gabito” que tanto me ensinou a viajar nas estórias (e história) que me foram contadas, não rejeitei nenhuma. Não posso deixar de citar a ardilosa escrita do “Boca do Inferno”, que chegou ao seu ápice com a narrativa de Ana Miranda (que também está no meu acervo – paupérrimo, mas é um acervo).
Há ilustres mulheres que, sendo lidas, podem transformar até homens rudes; são as divas que enfeitam as minhas prateleiras, são perfumadas e belas, mesmo quando os exemplares já demonstram certa idade, como por exemplo, os belos versos de Cora Coralina ou até mesmo Clarice em “Água Viva” que já demonstra desgaste natural.
Esta minha “vasta” herança, se avaliada não propiciará a nenhum beneficiário valores, mas garanto que em cada um deles poderá viajar até mesmo para planetas jamais explorados (é o caso do Planeta do Pequeno Príncipe).
Tenho absoluta certeza que deixo em boas mãos tais objetos, e adianto que é uma mãozinha acostumada a folhear livros e admirar figuras (ainda é uma criança, mas encanta-se com as estórias contadas por mim).
Lembro-me que durante minha gravidez – uma gravidez extremamente feliz – lia e relia alguns contos infantis, e quando era preciso uma leitura adulta, a fazia em voz alta, como se estivesse a representar tal fala. Era uma leitura compartilhada, tanto que hoje, a dona das mãozinhas pequenas não dorme sem que eu leia algum texto; às vezes até pede para que eu as crie.
“Mas a mamãe escreve para adultos”, sempre argumento desta forma, mas ela sempre responde: “mas se você explicar, eu vou entender”, nem sempre leio exatamente aquilo que escrevo, há coisas que o tempo lerá para ela.
Nem sei ao certo o que me leva a rabiscar este suposto “testamento”, o que eu; modestamente, acho desnecessário. Mas, hei de deixar claro o destino dos meus livros, e isso já o fiz nas linhas acima.
Meu leitor, amigo ou inimigo; não pretendo aspirar tão já, mas a falta do que escrever leva qualquer pseudo-escritor a divagar, cheguei até pensar nos vermes, mas plagiaria Machado deslavadamente. Não nego a analogia, que tanto almejo (e sei o quanto é difícil atingi-la) mais me rendo ao meu amadorismo, que num futuro outro título possivelmente ganhará.
Não há um fim na morte. Há apenas o mistério, que para os poetas torna-se combustível. Escrevo em vida o que ela própria me concebeu.