PONTUAÇÃO: ESCRITOR E POLÍTICA

Eu também não imaginava que veria o pêndulo da dinâmica da História fazer o movimento contrário. Eu pensava, a História se move lentamente e uma geração é pouco para ver muita mudança. Mas, na velocidade em que as estruturas estão se movendo aproximando cada vez mais os eventos de curta duração na engenhoca do tempo, a percepção que tenho das permanências dos efeitos de longa duração no tempo é a de que as pontas do arco, ou fluxo do movimento pendular, se vergam ao peso do dínamo que a tudo as impulsiona.

Depois do golpes sucessivos contra a democracia e constante descredibilidade do receptor-leitor-cidadão, encontrei esse lugar de espia, de observação, e um contentamento qualquer de estar vivo para testemunhar novas mudanças.

Tenho visto todo tipo de produção artística e acompanhado especialmente escritores, de poetas a romancistas, e percebo o mal estar que nos circunda elevado a categoria de instrumento de asfixia na arte talvez para matar para ressuscitar o cidadão-leitor. Eu não sou adepto desse movimento embora consciente de que o artista seja “homem do seu tempo” e tem certa obrigação de atuar politicamente. Mesmo respeitando essa postura de trazer para a arte o caos que vivenciamos como realidade penso que o leitor careça de lirismo e não de “poesia jornalística”. Eu aprendi com Dona Eulália, personagem do TECIDO NA PAPELARIA, esse realismo tem furos, Eu sou da tribo de J.J. Veiga que bebeu do realismo fantástico um modo de suspender a realidade em gravidade onírica - precisamos de lirismo, por mais comedido que seja, salve Bandeira!

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 02/09/2019
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