Dentinho

Daquele pão duro que estava comendo

Em questão de segundos senti uma dor

Dorsinha malandra que veio descendo

E do sangue escorrendo o cuspi com pavor

Pobre do dente! O coitado enfartou

Ah! Que tristeza!

Ele que fora fiel companheiro de tantas jornadas

Via-se agora ao relento

Jogado no bolso no meio do nada

Coitado! Tão valente e sagaz

Defendia-me de quase tudo

Podia ser frango, boi até porco

Não tinha medo!E nem era parrudo!

Se era para o meu bem

Mordia, esmagava e exterminava com tudo

Ah! Quanta saudade senti

Vivíamos como um nó

Acordávamos cantando e felizes

Pasta e escova - eramos um brilho que só

Mamãe quando caído te viu

Foi mais carinhosa que eu

Lavou-te, secou-te

E num paninho branco

Sua alma partiu.

Hoje passado alguns anos

Vejo-te do mesmo jeitinho

Bem pálido e pequenino

Mas o vazio que deixou

Por muito tempo não durou

Arranjei outro para o seu lugar

Mas veja bem.

Se a carne é fraca,

O que iria fazer?

Não poderia ir lá te buscar

Peço ao "Pai dos Dentinhos"

Que o proteja até tudo acabar,

Pois quem sabe na outra vida

Eu seja o dentinho perdido

E você uma alma a chorar.