Em direção ao sol

          As pedras rolaram precipício abaixo e por um instante senti todo o meu ser em torpor. Eu sabia que cairia. Já estava me preparando para a morte certa. Perdida num abismo para não ser encontrada. Fazia frio e o céu escurecia. Ainda era dia, um dia tão longo e tortuoso quanto a mais longa das madrugadas.
          As asas se abriram e bateram. E as pedras seguiam caindo dentro daquele infinito gelado, escuro e inóspito.
          Não tive tempo para lágrimas, segui a direção que indicava o vento, iria parar de chover em algum instante. Eu só tinha que juntar minhas forças para não me render logo ali.
          Voei até escurecer, até encontrar um cantinho seguro para me aquecer. Não tive sonhos. Era mais um dia. Eu estava longe de casa, mas seguiria viagem e fosse onde fosse meu destino final, faria dele meu lar.
          Às vezes a vida não concede uma opção mais amigável. Perde o sentido e não há nada que possa ser feito.
          O mundo como eu costumava conhecer se derreteu em ruínas. Não restou nada senão lembranças. Algumas boas e outras tão amargas.           Fragmentos que guardo para nunca me esquecer de que cada cantinho que se faz meu lar contribui para que eu sempre saiba voar em direção ao sol.
          Fui voando. E cá estou. No meu novo mundo. Cuidando das minhas asas quebradas, posso precisar delas novamente.

 
15 de junho de 2019.
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 16/06/2019
Reeditado em 08/04/2020
Código do texto: T6674009
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