Uma analogia sobre ele, vidas passadas e ritos de passagem.
Consigo te imaginar entrando e saindo sozinho de qualquer lugar.
Consigo te imaginar comendo na mesa da cozinha, olhando pras paredes azuis sem pensar em nada específico.
Consigo te imaginar sentado na frente do computador, sem fazer nada relativamente importante, apenas perdendo tempo.
Consigo te imaginar andando pelo seu quarteirão, grande demais, com apenas o cigarro aceso pra iluminar seu rosto sem expressão.
Consigo te imaginar de todos os jeitos.
Mas nunca consigo ultrapassar a barreira que você criou na sua mente.
Não consigo imaginar o que você pensa, o que sente, o que quer.
Não consigo pensar em como desvendar os seus segredos.
Eu faço suposições e mais suposições, sem entender absolutamente nada. Sem ter noção de nada. Sem conhecer nada.
Todas as suas palavras não tem propósito, suas ações são sem fundamento, seus planos não são feitos pra serem realizados, e seus dias não são gastos produtivamente.
Pode existir isso?!
Um ser humano completamente vazio?!
Sem sentir qualquer coisa?
Tristeza, raiva, felicidade.. Nada passa por você..
Você diz que sente nada.. Absolutamente nada.
Você me faz pensar no Nada, o maior ‘vilão’ do meu livro favorito, onde ele, exercendo uma atração impossível de resistir ao chegar perto o suficiente, você perde suas cores, sua essência, seus sentidos, você não vê, não ouve, não sente ou pensa em nada. Apenas vai esvaindo, como se fosse um daqueles efeitos visuais, que você perde a cor devagar, até ficar transparente, e, finalmente, some. Deixa de existir. Se perdem todas as lembranças sobre você, e você só existe numa pequena placa de vidro fino, quase sem cor, que precisa ser extraída no fundo de uma mina, por um senhor silencioso, que trabalha sozinho e é mais velho que o próprio conceito de tempo.
Você me faz pensar que eu sou como o Bastian, querendo sempre mudar, sempre ganhar algum atributo que não possuo, em troca de lembranças da minha vida passada, ou seja, você.
Eu sempre costumo pensar e dizer que o Destino tem sempre algo preparado, que nenhum encontro é em vão, que nossos planos não são nada, e eu estou tentando compreender os motivos que me fizeram encontrar você, das conspirações que foram realizadas pra que eu encontrasse você, das lições que eu devo tirar desse encontro, as experiências que preciso internalizar.. Mas esse me parece apenas uma divisão, da fase onde todos os ‘amores’ que tive eram vazios e rasos, e você foi o que me mostrou a profundidade e o que é a vontade.
Eu sinto como se, de agora em diante, eu tivesse que ser uma pessoa diferente, uma pessoa madura, experiente, calma, paciente, uma pessoa que transparece ter visto e vivido de tudo, mesmo não tendo uma idade apropriada pra já ter esse tipo de olhar.
A realidade é que me sinto perdida e silenciosa. Sem voz, sem sentidos, apenas desperdiçando fatias do pouco tempo que eu tenho nessa vida.
Se todos renascem em uma vida diferente, com sempre algo a ser resolvido ou aprendido, eu sinto que esse renascimento foi o rito de passagem. Eu espero que essa não seja a última, que eu possa renascer e exercer tudo que aprendi nessa e nas vidas anteriores de forma satisfatória, pra poder virar o que quer que eu tenha que virar.
Não quero que você vire uma placa desenhada que seja extraída das profundezas, sem sentido ou conexão. Que me faça sentir um aperto no coração e a garganta fechando, sem entender o que é.
Não se esvaia em Nada.
Não caia na atração dele.
Fuja pro outro lado, corra, voe, foque o pensamento e se torne aquilo que o Destino conspirou pra que você se tornasse.
Não se perca em você mesmo.
Ouvi Until Today, de Taemin (Shinee) enquanto escrevi isso.