Avenida das Cores

O maquinário prateado resvala através da avenida ladeada

de gigantescos prédios que sobem e sobem escalando

o éter até fazerem cócegas às nuvens de algodão que

flutuam no manto de anil, com seus mastros metálicos

& embandeirados & adelgaçados.

No subsolo as formiguinhas generalistas cavam túneis

absurdos e estreitíssimos, enquanto, no gramado, sob o sol

as jardineiras colhem as provisões para o inverno

naturalmente prolongado.

Solas de sapatos pressurosas correm pra lá e pra cá

sobre os paralelepípedos da calçada; lumes nas pontas

dos cigarros vomitam fumaça pelo ar.

As vitrines recebem a polida matinal.

Nos açougues armam os cavaletes de promoção.

No vale, não muito longe, Diana acorda as nepéias

as borboletas, os gambas, e o poeta bêbado - o cortejo habitual.

O caixa do supermercado ensaia a carranca ante o pequeno

espelho do fétido banheiro dos funcionários preguiçosos.

Os primeiros acordes da cômica ópera da vida !

as palavras perdem sentido.

A eterna duvida existencial arrefece. . .

Viver! meu caro, viver pra se arrepender!

Brayan Nascimento
Enviado por Brayan Nascimento em 22/05/2019
Reeditado em 23/05/2019
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