Avenida das Cores
O maquinário prateado resvala através da avenida ladeada
de gigantescos prédios que sobem e sobem escalando
o éter até fazerem cócegas às nuvens de algodão que
flutuam no manto de anil, com seus mastros metálicos
& embandeirados & adelgaçados.
No subsolo as formiguinhas generalistas cavam túneis
absurdos e estreitíssimos, enquanto, no gramado, sob o sol
as jardineiras colhem as provisões para o inverno
naturalmente prolongado.
Solas de sapatos pressurosas correm pra lá e pra cá
sobre os paralelepípedos da calçada; lumes nas pontas
dos cigarros vomitam fumaça pelo ar.
As vitrines recebem a polida matinal.
Nos açougues armam os cavaletes de promoção.
No vale, não muito longe, Diana acorda as nepéias
as borboletas, os gambas, e o poeta bêbado - o cortejo habitual.
O caixa do supermercado ensaia a carranca ante o pequeno
espelho do fétido banheiro dos funcionários preguiçosos.
Os primeiros acordes da cômica ópera da vida !
as palavras perdem sentido.
A eterna duvida existencial arrefece. . .
Viver! meu caro, viver pra se arrepender!