Sobre medida
Queira Deus que, no dia do nosso julgamento derradeiro, sejamos medidos e julgados pela misericórdia, que utilizamos para com todos, ao longo da vida. Afinal, a misericórdia é a medida do cristão. Jesus, ao longo de todo Evangelho, nos ensina o valor da reciprocidade: "tudo quanto quereis que as pessoas vos façam, assim fazei-o vós também a elas" (Mt 7,12); "amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22,39); "perdoai-nos as nossas ofensas, como nós perdoamos aos que nos ofenderam" (Mt 6,12); "com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós" (Mt 7,2). A vida cristã é regida pela lei da reciprocidade. E essa lei deve encontrar sua matriz no amor. Não no amor entendido como sentimento ou substantivo abstrato, mas sim como um jeito de se portar diante da vida e do mundo. O amor, aqui, é a manifestação da misericórdia para com o outro, que passa a ser o meu próximo, o meu irmão. A trena utilizada pelo cristão para medir o outro e suas ações não tem como base somente a si mesmo, tal como o mito de Procusto, mas antes o modo como ele gostaria de ser visto e medido. Por isso, no jeito cristão de julgar sempre se leva em consideração o outro em si e por si mesmo. O respeito a alteridade se torna essencial e revela a misericórdia de Deus manifestada na singularidade de cada pessoa humana. Tal atitude implica num novo olhar para o outro. Este passa a ser julgado e medido por aquilo que, originalmente, é: filho amado de Deus, nosso irmão. Que esta seja a nossa medida ao amar e jugar os nossos irmãos e irmãs.