"Covardia"

Vou-me embora. Definitivo até quando eu agüentar.

Por qual razão? Sabe lá Deus, só sei que o que desejo é o sono tranqüilo. Uma manhã sem ruídos e uma noite acolhedora.

Não quero o veneno das paixões desregradas, temo o sentimento sorrateiro, nego qualquer forma de aproximação imaterial. Quero apenas padecer em paz, sozinha e pura.

Na pureza, recobrar a minha lucidez. 

Retirada, no meu claustro, encontrarei o refugio.

Quero novamente poder sorrir sem temer, sussurrar e ser percebida. Ser, no contágio da minha alegria, percebida por todos.


Quero na tomada da decisão, resguardar o Amor.

Deixa-lo na paz serena do meu pensar.

E impedi-lo de fenecer. Perpetuá-lo no meu íntimo e torna-lo imortal.


Que o meu pedido seja compreendido, como na angústia de uma cólera infindável, suavizar a dor de quem a sente.

Que o meu abandono seja, em reverso, o seu renascer.

Que a minha covardia seja clamada,

Adejada para longe e enfim estabelecida.

Pois é no medo que retomo a mais lúcida atitude,

De deixar o sonho para na realidade sobreviver!