Odebrecht
Os delatores da Odebrecht, revela a imprensa brasileira, dão relatos, em depoimentos, tão pormenorizados da relação promíscua entre eles e os políticos, que impede as pessoas de acreditarem que eles inventaram tudo.
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Todos os políticos delatados por funcionários do alto escalão da Odebrecht dizem que não receberam propina. Quem seria tão idiota, caso tenha recebido propina, a ponto de declarar que recebeu?
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Marcelo Odebrecht citou, em delação premiada, diversos políticos, e com riqueza de minúcias descreveu o papel de cada um deles no esquema de corrupção no qual está diretamente envolvida a empreiteira que carrega o nome da sua família. E todos os políticos que ele mencionou se declaram honestos, afirmam que sempre foram obedientes à Lei, e dizem que ele, o delator, mentiu. Ora, se Marcelo Odebrecht mentiu, então ele inventou papéis, um para cada personagem da trama, emprestando a todo eles ares tão reais que elas se movem como se seres vivos fossem, e criou um enredo complexo, aparentemente caótico, demonstrando um extraordinário poder criativo, e revelando-se um contador de histórias primoroso, dotado de uma imaginação, que, de tão fértil, é invejável e não encontra paralelo nos anais da história da literatura universal. Se se dedicasse à literatura, ele seria um escritor tão, ou mais, genial que Leon Tolstoi, e escreveria um romance superior à Guerra e Paz.
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De tanto mencionar a empreiteira Odebrecht e apresentá-la como que estando no centro de todo o esquema de corrupção investigada pela Operação Lava-Jato, a imprensa dá uma idéia errada ao público: A de que a empreiteira é a fonte de toda a corrupção no Brasil. E a fonte ela não é. A fonte está no estado brasileiro, burocrático, empreguista, nepotista.
Se a Odebrecht declarar falência e encerrar as suas atividades, os corruptos persistirão na falsificação de carne, na manipulação de licitações de próteses, de merenda escolar, e a presentear familiares, parentes e amigos com sinecuras rendosas, a comprar licenças ambientais...
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A empreiteira Odebrecht não tem a dinheirama - a montanha de dinheiro que a imprensa tem dado a conhecer aos brasileiros – com o qual paga propinas aos políticos. Para obtê-la ela adiciona à planilha de custos das obras contratadas pelo governo o valor das propinas. E como quem assina os cheques para pagamento às empreiteiras pelos serviços por elas prestadas são os chefes do executivo – municipal, estadual e federal –, e sabendo-se que a fonte de receitas de municípios, de estados e do governo federal é a taxação (impostos, dinheiro público), então, há de se concluir, é com dinheiro público que eles pagam as empreiteiras pelas obras superfaturadas.
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Todos os políticos mencionados em delação premiada pelos executivos da Odebrecht se dizem honestos e declaram que registraram todas as doações às campanhas eleitorais como manda a lei eleitoral. Por que, então, nenhum deles dá a conhecer a público os documentos que compravam tal declaração? Por que nenhum deles toma tal iniciativa? Por que nenhum deles dá a público os documentos relacionados às doações da Odebrecht? Até agora nenhum político indigitado pelos delatores tomou tal iniciativa.
Sei que há um princípio, de justiça, que vem em defesa de toda pessoa apontada como o perpetrador de um crime: Toda pessoa é inocente até prova em contrário. E não cabe avaliar uma pessoa antes que todos os recursos tenham sido usados em favor de um julgamento justo; portanto, respeita-se todo o processo legal, e não cabe aos apontados como corruptos abrirem mão de todos os recursos que a Lei lhes garante. Sei disso. Mas, tendo-se em vista o calendário eleitoral e o estrago que a exposição do rosto e do nome faz à imagem, não seriam insensatos os políticos que, não tendo se envolvido em nenhuma falcatrua, darem os documentos a público, pois, com tal decisão, eliminarão as suspeitas que os brasileiros têm a respeito deles e recuperarão a imagem sem nódoa que exibiam antes de verem seus rosto e nome exposto na lista do ministro Edson Fachin.
Escritos em 15 de abril de 2017.