Quebrando expectativas

Não tenho palavras para expressar a tristeza e a decepção que vivem em mim. Sou idealizadora e é inocente nesse ponto, em acreditar nas pessoas e nas promessas e potenciais. Quando as expectativas criadas não são atingidas, quando as redomas de vidro são quebradas e se expõem feias e disformes as essências humanas, me firo igualmente.

Sinto a dor que esses seres sentem em descobrirem-se formas tão diferentes das que eles mesmos idealizam de si. São autoilusionistas, enganam-se e se ferem, se refletindo e projetando nos outros. E eu, que não sou diferente, faço o mesmo e machuco-os e a mim.

Aprendi a tentar não idealizar. Mas me disseram que a vida é feita de sonhos e é preciso sonhar. Morri de medo quando me vi insone. Com pesadelos tão sombrios quanto os medos que os criam.

As pessoas mudam e se mostram. Seu melhor e seu pior. Seu melhor na casca; seu pior no recheio. Num bombom amargo e licoroso nas embalagens mais lindas que já vimos.

Eu, por outro lado, aprendi a me fechar, a me esconder, selecionar e peneirar pensamentos e fala. Pisar em ovos sem quebra-los e evitar as pontas das facas e os murros. Não saio ilesa ainda assim. E quem sai?

Ainda não aprendi o limite entre o que é desistência e o que é autopreservação. Acho que os instintos estão confusos. E quem nesse mundo não está?

Enquanto isso, água pra engolir o amargor da boca ou coragem pra cuspir fora a sobremesa na frente de todos no jantar. E ai? O que é? O que pede? O que pode? Azul ou vermelho?

Manuela Salles
Enviado por Manuela Salles em 09/11/2018
Reeditado em 18/11/2018
Código do texto: T6499015
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