Quebrando expectativas
Não tenho palavras para expressar a tristeza e a decepção que vivem em mim. Sou idealizadora e é inocente nesse ponto, em acreditar nas pessoas e nas promessas e potenciais. Quando as expectativas criadas não são atingidas, quando as redomas de vidro são quebradas e se expõem feias e disformes as essências humanas, me firo igualmente.
Sinto a dor que esses seres sentem em descobrirem-se formas tão diferentes das que eles mesmos idealizam de si. São autoilusionistas, enganam-se e se ferem, se refletindo e projetando nos outros. E eu, que não sou diferente, faço o mesmo e machuco-os e a mim.
Aprendi a tentar não idealizar. Mas me disseram que a vida é feita de sonhos e é preciso sonhar. Morri de medo quando me vi insone. Com pesadelos tão sombrios quanto os medos que os criam.
As pessoas mudam e se mostram. Seu melhor e seu pior. Seu melhor na casca; seu pior no recheio. Num bombom amargo e licoroso nas embalagens mais lindas que já vimos.
Eu, por outro lado, aprendi a me fechar, a me esconder, selecionar e peneirar pensamentos e fala. Pisar em ovos sem quebra-los e evitar as pontas das facas e os murros. Não saio ilesa ainda assim. E quem sai?
Ainda não aprendi o limite entre o que é desistência e o que é autopreservação. Acho que os instintos estão confusos. E quem nesse mundo não está?
Enquanto isso, água pra engolir o amargor da boca ou coragem pra cuspir fora a sobremesa na frente de todos no jantar. E ai? O que é? O que pede? O que pode? Azul ou vermelho?