Minha filha quer que eu morra

Minha filha quer que eu morra

Minha filha quer que eu morra. Já li isto muitas vezes em seus olhos esverdeados. Hoje quase ela vosciferou a frase, não pronunciou porque, como eu não queria ouvir, adiantei-me e cortei-lhe a palavra.

Não vejo nada de errado nisto. Quantas vezes eu mesma desejei que a minha mãe morresse, achando que isto me deixaria livre para ser quem eu era, e, que meu mundo seria muito, muito, mais muito melhor.

Também não acho que este fato deva escandalizar alguém. Creio que em pelo menos um momento da vida todos desejaram isto ou ainda vão desejar, pelo bem ou pelo mal.

Eu não entendo nada de psicologia. Faço muito mal a interpretação de textos das psicologias de botequim e de gibi.

No entanto, os anos foram passando, tornei-me mãe, levei uns tropeções na vida, vi minhas irmãs tornarem-se mãe, tornei-me mãe de meus sobrinhos, meus cabelos começaram a branquear... hoje vejo com outros olhos minha velha mãe cuidando de mim, como sempre fez, embora muitas vezes eu não a entendesse.

Os cabelos brancos de minha mãe, as rugas em sua face, o tremor das mãos, a voz acelerada e brigante de sempre, sua bênção de perto ou de longe me fazem ver que mesmo quando ela se for, ela estará comigo.

Sou um pouco dela na genética, nos modos, na forma de pensar, nos valores, no jeito de agir e de ser. Isto a faz única e me faz única. Isto a faz ser minha mãe e me faz ser sua filha, num vínculo único e verdadeiro, só nosso.

Morrerei um dia de fato. Não porque a Moreninha deseje. Pelo contrário, sei que no fundo no fundo ela não deseja isto e vai sentir minha falta.

Morrerei porque faz parte da vida, da minha e da dela.

Alenta-me saber que um dia ela vai repensar seu desejo de morte e vai ver que a vida é muito, mais muito mais do que uma bronca de mãe, um castigo de mãe, um pito da mãe, um "não" da mãe.

A vida é bela e foi gerada para ela, primeiro em um coração de mãe, depois em um ventre de mãe, amamentada no peito da mãe, acalentada no colo de mãe, guiada por alguns anos pelas mãos da mãe... e que a gente para crescer precisa ouvir alguns "nãos", porque a vida não é feita sempre de "sim". Um "não" de mãe é dado muitas vezes com lágrimas nos olhos para que os olhos do filho possam enxergar mais longe.

De autora desconhecida ;) para Maria Luisa Gomes 27.08.2018

Baronesa
Enviado por Baronesa em 27/08/2018
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