DECADÊNCIA
A velhice e a morte são naturais. A natureza pode ser bela, mas também horrível, e é possível aliviar um pouco desse horror através da ciência e da tecnologia, na esperança dos cuidados adequados e dos futuros avanços da medicina poderem retardar ou, quem sabe, reverter, a senescência.
Apesar de ser o caminho da natureza, a perspectiva de nossa morte pessoal, do falecimento dos amigos e familiares que amamos passarem pelo processo de decadência, enfermidade e morte junto as suas personalidades e todas suas memórias perdidas para sempre, é horrível, trágico e comovente. Por mais natural que seja, não estamos emocional ou intelectualmente preparados para aceitá-la, por ser tão aterrorizante que a maioria das pessoas não está disposta a confrontá-lo honestamente. Claro, que existem outros problemas na existência para se preocupar, mas nenhum mais pessoalmente importante.
A vida é o único bem que temos. Para quem fica, resta compartilhar e acreditar em idealizações agradáveis de vida após a morte quando a inexistência é tão horrível de enfrentar quanto inevitável.
Consciente da brevidade da vida torna cada momento e cada interação mais preciosa. Portanto, a felicidade e o amor que encontramos e fazemos na vida são tudo que conseguimos.
Boas pessoas estão sofrendo e morrendo sob os cuidados da saúde pública, e isso precisa mudar de uma maneira que nunca foi feita antes. Nenhuma pessoa sensata que passou por uma experiência num hospital público brasileiro, pode ignorar os inúmeros eventos de descaso e quase abandono de pacientes sofrendo patologias graves, dolorosas e debilitantes muitas ao lado dos elevadores e pelos corredores aninhados em macas hospitalares, com médicos infrequentemente circulando não nas enfermarias, mas nas áreas públicas do hospital, com muitos morrendo à espera de uma transferência para outra unidade que tenha as condições para completar seu diagnóstico. Usuários de um sistema precário e falido de saúde pública composto por muitos profissionais emocionalmente distanciados da realidade do sofrimento auferido àqueles que dependem desse único recurso para abrandar suas dores entregues aos cuidados de profissionais desumanizados e indolentes, que negligenciam tanto sua frequência ao posto de trabalho quanto ao tempo que dedicam ao atendimento de seus plantões públicos, visando ganhos em serviços clínicos privados. É o dinheiro que atrai o médico.
A medicina se tornou em vitimologistas e patologizadores, com a implementação de desigualdades na distribuição espacial dos recursos hospitalares, particularmente para os serviços de alta tecnologia esquecendo das noções de responsabilidade, preferência, vontade e caráter, trabalhando apenas o estritamente necessário, esquecendo do juramento ético para atender o paciente com intervenções para tornar a vida das pessoas relativamente mais confortáveis, douradoras e menos angustiantes.
Essa situação requer uma investigação rigorosa e sistêmica, pois, existem outras causas que tornaram possível tal crise, que irá melhorar, apenas, quando as pessoas aprenderem a votar e 90% dos líderes forem substituídos.