Uma aula sobre minha pesquisa na matéria que mais me marcou no curso de Psicologia.

Há 5 anos eu entrava na faculdade, “quase” sem amigos, há três anos sem realmente ter uma vida social e com medo de que não conseguisse acompanhar a turma por ter feito parte do ensino médio quase que em casa. E passando-se todo esse tempo, vejo quanta coisa mudou, apesar não ter me formado ainda.

Naquele primeiro semestre, tive pela primeira vez um professor depois de 3 anos praticamente estudando sozinho e não era qualquer professor, foi aquele que me fez se apaixonar pela ciência psicológica nas aulas de história da Psicologia e me fez lembrar de algo que tinha desaparecido durante o ensino médio, a paixão por estar em uma sala de aula.

Foi na aula dele que conheci o meu grupo do primeiro semestre, Já que ele pediu para nos reunirmos em grupo pra apresentar “lá na frente”, e mais do que isso,foi nessa aula que fiquei encantado, pois nunca havia pensado que poderia haver alguém com tanto conhecimento. Porém, foi no ano seguinte em Psicologia social 2 com o mesmo professor , que eu ficaria profundamente marcado...

Psicologia Social 2 (saúde mental) foi a matéria que mais remeteu à minha história, a cada aula, a cada filme, passavam flashs na minha cabeça. Foi a primeira vez que expus pra sala o fato de ter tido surtos psicóticos, foi nessa aula que pude ver a beleza que havia na loucura, que loucura não é uma doença, mas sim, um modo de ser no mundo, mais do que isso, todos estamos suscetíveis dependendo da nossa história, a “Psicotizar”.

Também foi um dos meus maiores desafios, me desestabilizei várias vezes, aquelas histórias me tocavam como se tivesse me olhando no espelho, vendo a minha história. Se fosse naquela época, eu poderia ser um dos internos de Barbacena, que pelo simples fato de enxergarem o mundo de uma forma diferente, foram condenados ao inferno onde seus gritos de socorro eram visto como consequências de sua própria doença. Se não fosse o apoio e suporte da minha família quem garante que não poderia estar com Estamira, abandonada, sofrida, mas forte e com estrema sabedoria.

Lembro das vezes que estive prestes a romper naquele semestre, e era engraçado, a matéria que mais amava, era aquela que mais abria a chance de enlouquecer. Mas também foi ela que me trouxe esperança,como não lembrar a icônica cena que o Índio quebra a janela com o bebedouro e foge para liberdade no filme um estranho no ninho? Como não lembrar da luta que John Nash travou contra a esquizofrenia (não é meu diagnóstico), até o final da sua vida quando ganhou o Nobel de matemática. Apesar da história do filme, não ser como a original, ainda serve de esperança para aqueles que assistem, pois mesmo que não ganhem prêmios, ou não sejam gênios, mesmo com todas as dificuldades, podem sim viver e quem sabe, fazer a diferença no mundo, ou pelo menos, no mundo daqueles que os cercam.

Lembro do filme que mais emocionou e que foi uma das minhas inspirações para essa pesquisa, o documentário Lixo extraordinário. A maneira como a arte mudou a vida de cada uma daquelas pessoas. Nunca vou esquecer a cena que Tião, líder da associação dos catadores de lixo do jardim Camacho, chora ao ver o quadro que Vik Muniz fez dele, ser vendido por mais de cinquenta mil reais num leilão em Londres, e ele finalmente percebe que toda a sua luta, tudo que fez, valeu a pena. Não esqueço da fala dele: “As pessoas não davam nada pela gente, ninguém acreditava em nós”. Cena em que o Vik abraça Tião e diz que ele merece e que é só o começo. Quem diria, em meio ao lixo, ops, material reciclável, pôde-se ver a abundância dos maiores milagres humanos: a vida e a esperança!

Foi um disciplina difícil, como já disse, não pela dificuldade do conteúdo, mas sim, pela maior dificuldade que tive nesse percurso... Me manter psicologicamente bem e são. Se não bastasse isso, ainda tinha que lidar com o sono que sempre me acompanhava e me acompanha pelas manhãs. Dormi na aula da Foucault por causa da medicação extremamente sedante, quem diria, o filósofo que um ano depois me apaixonaria e se tornaria aquele que mais me aprofundei na graduação.

E com tudo que foi citado, assim foi aquele terceiro semestre, muito sono ( medicaçã0), primeiras faltas na faculdade por entrar num período de desestabilização, muita produção de textos e poemas nas recaídas, porém.... de muita aprendizagem! E hoje, 4 anos depois, um “louco” apresentou uma aula em uma matéria 100% voltada para a saúde mental.

Posso dizer que mesmo que não me forme (vai que pego dp ou faço uma falta ética grave, nunca se sabe), alcancei coisas que muita gente diz que pessoas com transtornos como o meu não seriam capazes de alcançar. Ainda posso ter uma crise? Posso! Ainda falo sozinho? Ás vezes! “ Mas e se voltar a ter um surto sendo psicólogo como fica” ( Me perguntaram na faculdade), pode ocorrer, não só comigo, mas qualquer pessoa está suscetível. Provavelmente, eu precise de acompanhamento até o final da minha vida e sou consciente disso, mas e daí?

Apenas gostaria de agradecer ao professor por acreditar em mim durante esses anos e ter me dado essa oportunidade. E também a Jesus meu best friend forever que me mostrou quem eu sou de verdade, minha família que nunca desistiu de mim, aos meus amigos que sempre me dão suporte e aos profissionais que sempre estiveram ao meu lado, já que sem todos os citados, não sei nem sequer onde estaria....

Para terminar:

“Talvez aquilo que separa a realidade do sonho não esteja na mente, mas no coração e quero acreditar que o extraordinário é possível!” - Uma mente brilhante

Renan Souza