A PINTURA
Eu fui embora porque é da minha natureza partir. Talvez você jamais entenda... eu te salvei da minha inconstância. Desde o príncipio eu fui uma pintura surrealista, um borrão brincando com a sua sanidade. Aquele quadro na parede da sua memória é um reflexo pálido da minha existência. Você ousou me pintar de todas as cores, mas eu não fui nenhuma delas. Não se pode capturar o que não se vê com exatidão. Olhe para mim, feche os seus olhos. Se contorça e se retorça. É capaz de dizer quem eu sou? Encare a realidade. Não me pinte com ilusões. Na tentativa desenfreada de esboçar a minha impermanência você se perdeu no oceano do meu caos. Guarde o seu pincel. A minha liberdade é o movimento que você não pode controlar. Eu não sou ar que se respire. Eu sou brisa que nunca fica. Pinte flores, pinte objetos, mas não cometa o erro de fazer de mim a sua obra de arte. Não me congele nas suas tintas. Não tente prender os meus detalhes. É proibido tocar no sagrado de cada um. Respeite a placa de perigo e não olhe para trás quando se der conta que eu já bati a porta. Volte para os seus quadros e se não puder sorrir... pinte a sua dor.